PARAÍSO

 

Olho de Deus

Jerusalem Celeste Com Santissima Trindade e Terra

 

BÊNÇÃO ESPECIAL  

 

Editorial do dia 8 de Março de 2015  

 

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Nesta Página da Amen, pode encontrar a abordagem do Tema Global do

PARAÍSO

ÍNDICE 

 O que é o Paraíso

 Como foi criado o Paraíso Celeste

 O Paraíso nas Sagradas Escrituras

 O Paraíso nas Revelações Privadas

O Paraíso nas Revelações da Irmã Faustina Kovalska no seu Diário

O Paraíso nas Revelações da Fanny Moisseieva

 

 

 O que é o Paraíso

Podemos considerar a existência de dois Paraísos: O Paraíso Celeste e o Paraíso Terrestre.

Paraíso Celeste ou Paraíso Empíreo é o local que foi criado por Deus para habitação dos Anjos, no Primeiro Dia da Criação, muito antes da Criação de Adão e Eva.

Foi deste Paraíso Empíreo que os anjos rebeldes, ou demónios, foram expulsos e lançados no Inferno, local tenebroso que se situa nas zonas cavernosas do centro da Terra, de onde só saem para tentar a humanidade.

É também para este Paraíso Celeste que vão todas as almas dos que souberam conquistar a Vida Eterna, Graças aos méritos da Redenção de Jesus Cristo, às boas obras que praticaram com amor na sua vida terrena e devido ao seu amor a Deus e aos homens.

O Paraíso Celeste engloba vários Céus de que se fala no Pai-Nosso, e que se encontra relatado nos Evangelhos:

Mateus 6,9 9Pai nosso que estais nos Céus, santificado seja o Vosso nome…

João 14,2  2Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos um lugar.

 

É para estes diversos Céus que irão todas as criaturas que tiveram vida terrena, ou seja, que tiveram uma Alma, mas que não tiveram um Espírito. Estas criaturas que habitarão estes Céus não gozarão da mesma Glória daqueles que forem para o Céu onde está a Santíssima Trindade.

Também existem Céus próprios para os que tiveram Espírito, mas que não foram baptizados, como por exemplo os abortados. Eles não terão consciência de que existem outros Céus mais Gloriosos.

Em todos estes Céus há diferentes níveis de proximidade de Deus, bem como de Glória.

Aquele em que há uma maior Glória e proximidade da Santíssima Trindade, é aquele Céu reservado aos Anjos e Santos, nos quais se incluem todos os Baptizados dentro da Igreja Católica, que mereceram a Salvação Eterna e que se purificaram no Purgatório.

Neste Céu, onde está a Santíssima Trindade, digamos assim, só se encontram os que professaram a Religião Católica, quer se tenham convertido durante a sua vida terrena, quer só se tenham convertido no Purgatório. Esta purificação no Purgatório, inclui a adesão total a Jesus Cristo e à Sua Igreja, logo, à Conversão à Religião Católica.

Paraíso Terrestre foi criado muito mais tarde, logo antes da criação de Adão, onde ele havia de habitar com Eva e onde foram plantadas as Árvores da Vida e a Árvore da Ciência. Este Paraíso Terrestre perdeu-se e só há-de ser reconstruído nos Novos Céus e Nova Terra para acolher os que forem arrebatados no Fim do Mundo e devolvidos à Terra, para Reinar com Jesus Cristo após a Sua Vinda Gloriosa.

 

 Como foi criado o Paraíso Celeste

A Criação do Universo e de todas as suas criaturas foi antecedida na mente Divina, por um Plano da Criação. Enquanto o Génesis nos relata a Criação, o Plano de Deus ficou-nos relatado na extraordinária obra a Mística Cidade de Deus.

Foi na “Mística Cidade de Deus” , escrito por Sor Maria de Jesus de Agreda, que fui buscar muito do material com que construí os Dossiers da Amen sobre a Criação do Universo e do Resumo da Mística Cidade de Deus.

Passo a apresentar alguns dos extractos do Resumo sobre a Mística Cidade de Deus.

Para melhor compreendermos este Plano da Criação, Maria de Jesus de Agreda dividiu-o em 6 instantes, tendo a sua realização se verificado no Primeiro Dia da Criação, e que descrevi em Plano da Criação. No 5º Instante foi determinado a Criação da Natureza Angélica e do Céu Empíreo, que ficou assim descrito:

5º Instante Æ MCD-1-47 47 - … A este instante pertence a predestinação dos bons e condenação dos maus Anjos; nele viu e conheceu Deus, com Sua infinita ciência, todas as obras de uns e de outros, na sua devida ordem, para predestinar com Sua livre vontade e liberal misericórdia os que Lhe iriam obedecer e reverenciar e para condenar com Sua justiça os que se iriam levantar contra Sua Majestade, em soberba e desobediência, por seu desordenado amor próprio. E ao mesmo instante pertence a determinação de criar o céu empíreo, onde se manifestasse a Sua glória e nela premiasse os bons,… 

Depois veio então a concretização deste Plano Divino, isto é, a Criação propriamente dita.

 1º DIA DA CRIAÇÃO Æ 

Gn-1,1-3 1 No princípio, Deus criou os céus e a terra. 2A terra era informe e vazia. As trevas cobriam o abismo, e o Espírito de Deus movia-Se sobre a superfície das águas.

3 Deus disse: "Faça-se a luz!" E a luz foi feita.

MCD-1-81 81 - … E para que a ordem fosse também perfeitíssima, antes de criar criaturas intelectuais e racionais, formou o Céu para os Anjos e homens, e a terra, onde primeiro os mortais iriam ser viadores; …

MCD-1-82  82 - Da terra, diz Moisés que estava vazia e o mesmo não diz do Céu, porque neste criou os Anjos, no instante em que diz Moisés: "Disse Deus; faça-se a luz e a luz foi feita"; com efeito, não fala apenas da luz material, mas também das luzes angélicas ou intelectuais.         

MCD-1-122  122 - … O primeiro dia, que corresponde ao domingo, foram criados os Anjos e foram-lhes dadas leis e preceitos a que deviam obedecer; e os maus desobedeceram e trespassaram os mandatos do Senhor; …

MCD-1-83  83 - Foram os Anjos criados no Céu empíreo e em graça, para que com ela houvesse o merecimento do prémio da glória; com efeito, embora estivessem no lugar dela, não se lhes havia ainda mostrado a divindade face a face e com claro conhecimento, até que, com a graça, o viessem a merecer os que foram obedientes à vontade divina. E, deste modo, estes Anjos santos, como aliás os apóstatas, permaneceram muito pouco tempo no primeiro estado de viadores; …

MCD-1-87  87 - …  determinou a Divina Providência manifestar-lhes, imediatamente depois da sua criação, o fim para que os tinha criado com natureza tão elevada e excelente.

Uma pontinha do véu é levantada sobre o ambiente do Paraíso, quando, na Mística Cidade de Deus, é relatada a Assunção da Virgem Maria ao Paraíso Celeste, pois das maiores alegrias do Céu é a Visão da Santíssima Trindade e da Virgem Maria.

MCD-3-742 742 - Aquela alma puríssima passou de Seu virginal corpo à destra e trono de Seu Filho Santíssimo onde, num instante, foi colocada com imensa glória. Começou-se a ouvir que a música dos Anjos ia se afastando na região do ar, porque a procissão dos Anjos e santos, acompanhando seu Rei e Rainha, encaminhou-se para o Céu Empíreo. O sagrado corpo de Maria Santíssima que fora templo e sacrário de Deus vivo, ficou cheio de luz e resplendor, desprendendo tão admirável fragrância, que encheu a todos os circunstantes de suavidade interior e exterior. Os mil Anjos custódios de Maria Santíssima ficaram guardando o precioso tesouro de Seu virginal corpo. Os Apóstolos e discípulos, entre lágrimas de dor e alegria, pelas maravilhas que presenciaram, permaneceram absortos por algum tempo e, em seguida, cantaram muitos hinos e salmos em honra da falecida Senhora.

MCD-3-762 762 - Entrou no Céu Empíreo nosso Redentor Jesus, conduzindo à Sua direita a alma puríssima de Sua Mãe. Só Ela, entre todos os mortais, não teve matéria para o juízo particular, nem se lhe pediu contas. Assim Lhe foi concedido, quando a fizeram isenta da culpa comum, eleita Rainha dispensada das Leis a que estão sujeitos os filhos de Adão. Pela mesma razão, no Juízo Universal não será julgada como os outros, mas virá à direita de seu Filho Santíssimo, participando no julgamento de todas as criaturas. No primeiro instante de Sua Conceição, foi aurora claríssima e refulgente, retocada com os raios do sol da Divindade, acima das luzes dos mais ardentes Serafins. Depois, elevou-se até tocar a própria Divindade, ao se tornar Mãe do Verbo encarnado, Cristo. Era, portanto, consequente, que por toda a eternidade fosse Sua companheira, com a maior semelhança possível entre Filho e Mãe; Ele Deus e Homem, e Ela pura criatura. Com este título, o Redentor apresentou-A diante do trono da Divindade. Na presença de todos os Bem-Aventurados, atentos a esta maravilha, a Humanidade santíssima disse ao Eterno Pai: Meu Eterno Pai, minha Mãe amantíssima, vossa Filha querida e Esposa mimoseada do Espírito Santo, vem receber a posse da coroa e glória que lhe preparámos, como recompensa de Seus méritos. Nasceu entre os filhos de Adão, como rosa entre espinhos, intacta, pura e formosa digna de que a recebamos em Nossas mãos e no lugar onde não chegou nenhuma de nossas criaturas, nem podem chegar os concebidos em pecado. E A nossa escolhida, única e singular, a quem demos graça e participação em Nossas perfeições, ultrapassando a norma comum às outras criaturas; nela depositamos os tesouros e dons de Nossa incompreensível divindade, e Ela, com a máxima fidelidade, os guardou e fez lucrar os talentos que Lhe demos; nunca se afastou de Nossa vontade, achou Graça (Lc 1, 30) e complacência a Nossos olhos. Meu Pai, rectíssimo é o tribunal de Vossa misericórdia e Justiça, e nele se pagam os serviços de nossos amigos, com superabundante recompensa. Justo é que à minha Mãe se dê o prémio de Mãe; e se em toda Sua vida e obras foi semelhante a Mim, no grau possível à pura criatura, também o há de ser na glória; tenha lugar no trono de Nossa Majestade para que, onde está a santidade por essência, esteja também a máxima santidade por participação.

MCD-3-769 769 - Com esta glória, chegou Maria Santíssima, em corpo e alma, ao trono real da Santíssima Trindade, onde foi recebida pelas três divinas Pessoa s, em amplexo indissolúvel. O eterno Pai lhe disse: Sobe mais alto que todas as criaturas, Minha escolhida, Minha filha e Minha pomba. O Verbo humanado: Minha Mãe, de quem recebi a natureza humana e o retorno de minhas obras que perfeitamente imitaste, recebe agora de Minha mão a recompensa que mereceste. O Espírito Santo: Minha amantíssima Esposa, entra no gozo eterno correspondente a teu fidelíssimo Amor, e goza sem receios, pois já passou o Inverno do padecer (Ct 2, 11) e chegaste à posse eterna de nossos abraços. Ali ficou Maria Santíssima absorta entre as Divinas Pessoas, mergulhada naquele pélago interminável e abissal da Divindade, enquanto os santos se enchiam de admiração e novo gozo acidental. 

 

 O Paraíso nas Sagradas Escrituras

Algumas referências nas Sagradas Escrituras:

O Paraíso aparece-nos referido em:

 

Lucas 23,43  43Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.

 

João 14,2  2Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar.

 

II Coríntios 12,4  4que foi arrebatado ao paraíso, e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir

 

Apocalipse  2,7  7Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus

 

Já o Céu, como lugar onde se encontra Deus, nos aparece referido inúmeras vezes.

Mat 5,34  34Eu, porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis; nem pelo Céu, porque é o trono de Deus.

Mat 6,10  10venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no Céu.

Mat 6,20 20mas ajuntai para vós tesouros no Céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem roubam.

Mat 18,18 18Em verdade vos digo: Tudo quanto ligardes na terra será ligado no Céu; e tudo quanto desligardes na terra será desligado no Céu.

Mat 19,21 21Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no Céu; e vem, segue-me.

Mat 22,30 30pois na ressurreição nem se casam nem se dão em casamento; mas serão como os anjos no Céu.

 

 O Paraíso nas Revelações Privadas

Para além das valiosas revelações que nos foram feitas na Mística Cidade de Deus, em quase todas as Revelações Privadas há a referência ao Paraíso e o encorajamento para o conquistarmos.

Também Maria Valtorta teve visões do Paraíso e dele falou nos Cadernos de 1944 no dia 25 de Maio.

Vou apresentar algumas passagens mais recentes e significativas que contêm uma ténue descrição.

O Paraíso nas Revelações da Irmã Faustina Kovalska no seu Diário

O Paraíso nas Revelações a Fanny Moisseieva

 

O Paraíso nas Revelações da Irmã Faustina Kovalska no seu Diário

 

Diário da Santa M. Faustina Kovalska - Números 777 - 780

 777 -  (187) 27.XI.[1936].  Hoje estive no Céu, em espírito, e con­templei as indescritíveis belezas e a bem-aventurança que nos esperam depois da morte. Vi como todas as criaturas prestam incessantemente louvor e glória a Deus. Observei quão grande a beatitude em Deus, que a derrama sobre todas as criaturas, tornando-as felizes; e então toda a glória e louvor provenientes dessa felicidade, retornam à sua fonte; entram na profundida­de de Deus, contemplando a Sua vida interior, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, a Quem jamais hão-de compreender ou sondar.

Essa Fonte de beatitude é imutável na sua essência, en­tretanto sempre nova, jorrando para a felicidade de toda a cri­atura. Compreendo agora S. Paulo, que disse: "Nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais penetrou no coração do ho­mem o que Deus preparou para aqueles que O amam."

 778 -  E Deus deu-me a conhecer uma única coisa que, a Seus olhos, tem infinito valor, que é o amor a Deus; amor, amor, e mais uma vez amor — e nada se pode comparar (188) a um só acto de puro amor a Deus. Oh, que inconcebíveis favores Deus concede à alma que sinceramente O ama! Ó bem-aventurada aquela alma que goze, já aqui na Terra, dos Seus especiais dons! E essas são as almas pequenas e humildes.

 779 - Diante dessa imensa Majestade de Deus, que vim a co­nhecer mais profundamente, e que os espíritos celestes glorifi­cam de acordo com o grau de graça e a hierarquia em que se dividem, a minha alma não ficou estarrecida de pânico nem de terror, não, não, de modo nenhum! Sentiu-se antes repleta de paz e de amor e, quanto mais conheço essa grandeza de Deus, tanto mais rejubilo por Ele ser como é. E alegro-me imensa­mente com esta Sua grandeza, deliciando-me em eu ser tão pe­quenina, porque, assim menina, é Ele Quem me toma nos bra­ços e me leva até bem junto ao Seu Coração.

 780 -  Ó meu Deus, como me fazem pena as pessoas que não crê­em na vida eterna; e quanto rezo por elas, para que também sejam envolvidas pelo raio da Misericórdia e mereçam ser aconchegadas no paternal seio de Deus! ÓAmor, ó Rei!

 

 

O Paraíso nas Revelações a Fanny Moisseieva

Apresento seguidamente alguns extractos da Obra de Fanny Moisseieva - MEU SONHO LETÁRGICO DE NOVE DIAS.

Pode ler a obra completa em:

MEU SONHO LETÁRGICO DE NOVE DIAS  

O PARAÍSO - Parte 1

I

Voltei-me como a despertar, abri os olhos e de pronto fiquei deslumbrada com um amplo azul que se estendia diante de mim numa grande distância. O tempo que havia passado entre as trevas infernais havia ofuscado meus olhos: aqui, diferentemente, a luz se derramava em torrentes e seus raios atingiam tudo ao redor.

Voltei meus olhos e pensei: Que belo aqui! Que ar balsâmico e perfumado! Que formoso jardim! Que esplêndidos e multicoloridos vestidos usam as almas que passam por ele! E que límpido céu azul! Nenhuma nuvem empana a nitidez da pureza! Só o atravessavam os anjos, desaparecendo pelo azul imaculado. A erva aqui é subtil, verde, deliciosamente fresca e primaveril, adornada de flores e não se dobra ao solene pisar dos anjos. Que agradáveis são os pequenos caminhos que o atravessam!

Onde me encontro, então? Este é o glorioso Reino de Deus? Este é o Reino, onde infinitos coros de santos e querubins se inclinam ante o trono do eterno? Os sonhos, os benditos sonhos de minha vida; é aqui que se tornam em realidade? Rosas, rosas em quantidade, formam uma alfombra debaixo de meus pés, rosas se unem ao meu redor como grinaldas posando em meus braços e me deleitam com seu suavíssimo perfume.

Elas me disseram: Irmã: levanta-te! Estás agora no Reino do Pai Celeste, cujo Espírito vive em todas as coisas. Estás aqui, por Sua vontade, para que o homem não se extravie na dúvida, em busca inútil, para que possas contar na terra a nossa vida aqui, porque a viste.

Aqui, em contrapartida, é o Paraíso, cheio de toda a perfeição, e Deus reina gloriosamente nele, entre os doces cantos dos serafins, enquanto, em todas as partes florescem plantas e maduram frutos. Aqui podem viver somente as almas santas; aqui está a fonte dos pensamentos superiores e das idéias sublimes. A água dos regatos é pura e as asas dos anjos têm um esplendor prateado. Aqui ninguém trabalha e todos gozam dos bens que foram criados para os justos.

Uma delas trazia uma pedra preciosa, diferente das terrestres e tão grande que só a duras penas puder recolhe-la. A quem pertence esta pedra, perguntei. Posso levá-la comigo? Vale muito?

 Certamente – me respondeu – seu valor é considerável: vosso mundo não possui pedras similares e nem toda a terra seria suficiente para comprar uma só delas, porém acima, o Senhor as dá a todos que chegam a Ele. Se estás cansada, podes deixa-la no solo, que ninguém a tocará. Tu despertaste a pouco e não tens visto ainda nada ao teu redor. Olha quantas pedras aqui, e ainda mais belas que aquela. Aqui nada se vende nem se compra, porque aqui são inumeráveis as coisas raras. Se tu estivesses aqui há muito tempo, te asseguro que nem as terias tocado. Aqui existem pedras preciosas em tão grande quantidade que já não fazemos caso delas. Nossa alegria são as festas, que nos dão a possibilidade de voar por todos os astros e admirar a glória do Senhor. Nestes dias nos encontramos também com nossos entes queridos. Nas festas, só nas festas, vemos nossos parentes e amigos.

De pronto ouvi uma música dulcíssima: deixei cair a pedra preciosa e partimos daquele lugar. Ao redor de nós havia um dulcíssimo perfume de flores do Paraíso. Junto a uma sonora cascata nos detivemos e admiramos a esplêndida paisagem. Então meu companheiro se uniu a comitiva e, pondo sobre minha cabeça uma grinalda de flores em forma de coroa disse: Aqui há sempre uma bela primavera! Em todo o redor se erguiam majestosas palmeiras, que murmuravam, movidas por uma leve brisa que fazia mover as suas folhas. Naquele jardim havia um grande número de alamedas frondosas e caminhos, porém não se via ninguém andando por eles. Meu companheiro me guiava e me levava sempre adiante, e mostrando-me vários objectos, para mim de todo desconhecidos e sobre eles me ia explicando, porém eu não sabia dar-lhes um nome em nossa linguagem humana. Nem poderia descrever sua beleza, porque a linguagem da terra é demasiado pobre.

Agora te mostrarei  disse meu companheiro – os outros planetas nos quais talvez, um dia viverão eternamente as almas daqueles que na terra foram de outras religiões, mas viveram uma vida reta, e acreditaram num único Deus. E naquele mesmo instante nos encontramos sobre estes planetas sobre os quais me ia falando meu companheiro. Eram formosos por sua cor e me quedei admirada por sua paisagem. Mas meu companheiro me disse que sua beleza era muito inferior ao brilho do paraíso dos cristãos.

Como me havia indicado meu companheiro, estavam por hora desertos e somente o canto dos pássaros rompia o grande silêncio, enquanto vez por outra coros de anjos voavam por cima cantando hinos ao Criador. Agora chegamos aos mundos onde estão as almas dos cristãos.

II

Durante o voo eu admirava distintos e maravilhosos aspectos da vida celeste. Na passagem encontrávamos grandes e luminosos cometas de cauda flamejante. Alguns tinham três caudas e se iam voando pelo espaço infinito, deixando em sua passagem estrelas douradas. No fundo céu via as estrelas que de repente se separavam de sua rota e se precipitavam no infinito, sozinhas ou em grupos de milhares, formando como que um nuvem de ouro cintilante. Às vezes, em meio a estes mundos, passavam velozes esferas ardentes que deslumbravam a vista. Todo este espectáculo era tão grandioso e inconcebível que eu percebi que tudo aquilo era ainda e apenas uma pequeníssima gota do imenso mar do criado, e quão perfeito e Omnipotente é Deus, Criador e Senhor do Universo.

E dirigindo-se a mim, meu companheiro disse: Não existe na terra nenhum mistério que seja comparável em grandeza ao do além túmulo. O homem pode subjugar as forças da natureza, porém não poderá nunca saber o mistério do além. E indicando-me o Céu falou: Vês estes pontos luminosos? São planetas sobre os quais existe uma vida eterna, porém estão separados da terra por um espaço inacessível. Depois, continuando nosso vôo, fomos chegando a um planeta que fazia tempo brilhava entre os outros, similar em forma à terra, porém de dimensão menor. Quando chegamos, observei que o solo de uma cor diferente da terra: era pardo e roxo claro.

Eu me assombrei também pelo imenso número de rios que cortavam a planície em todas as direcções. Havia também lagos, porém a natureza em geral se diferenciava da terrena.  Até o ar era diferente, porque eu respirava mais livremente. Tudo ao redor era festa de cores. A água dos rios e dos lagos era azul turquesa e não pelo reflexo do Céu, mas sim pela própria faculdade. No horizonte se erguiam montanhas altíssimas de uma cor violeta escuro. Nos achegamos aos bem-aventurados que estavam ali.

Eles contavam a um novo hóspede do paraíso, chegado fazia pouco tempo, a grandeza e a Glória do Senhor, sua Majestade; a sabedoria que concede a eles, a liberdade que gozam ali, onde não se lhes opõe nenhuma barreira nem espaço; sua clarividência, pela qual eles experimentam grandes satisfações. Passa o tempo, os séculos se sucedem, porém nenhum teme esta carreira, e ninguém tem qualquer inimigo. E nos dias de festa nossa alma espera a reunião como seus entes queridos e não pede outra coisa.

Calaram-se, e então ressoou um hino sagrado. Eu olhava cheia de admiração a estes bons seres, almas sensíveis que rezavam e conheceram na terra a piedade e souberam apreciar o trabalho dos homens. Sobre isso me falou meu companheiro quando lhe perguntei por quais caminhos terrenos se pode chegar a este reino.

Subimos até bem alto para admirar o panorama do vale, e um espectáculo grandioso se nos apresentou. Amplas extensões de prados, adornados de esplêndidas flores e árvores curvadas até o chão pelo peso de frutos dourados. Do alto descia um claro raio de luz sobre a floresta de folhagem murmurante. Era o mais esplêndido bosque que eu já vira, e dava frutos que não são vistos na terra, alguns dos quais tinham um aroma como de vinho perfumado. Detive-me ali por longo tempo, fascinada por aquele espectáculo maravilhoso, e enquanto meus olhos apreciavam tudo, a natureza parecia dizer: tudo isso é dom eterno para os justos.

“Agora que vês o reino do além – me disse meu companheiro – é bom que saibas que as almas dos justos às vezes podem descer à terra porém invisíveis a todos. E isso sucede em dias de festa, quando se lhes concede ir a visitar os seus amigos e sua tumba vazia. Mas apenas seus queridos tenham abandonado a terra, esta se volta aos justos, completamente indiferente aos que deixou. Te mostrarei agora a região onde vive eternamente tua mãe.

III

Depois de haver admirado longamente este quadro que me alegrou verdadeiramente, nos dirigimos voando até o local onde se encontrava minha mãe. Chegamos logo nas proximidades de um planeta de dimensões tão excepcionais, que me pareceu ser muitas vezes maior que a terra. Era meio dia e o sol estava pleno. O céu era de um azul puríssimo e estava levemente marcado por nuvenzinhas alvíssimas. Vi os flancos das montanhas brilhar de ouro e prata; pedras preciosas de muitas cores pareciam ter sido espalhadas entre as rochas por uma pródiga mão; corriam Arroios e prateadas cascatas iam gotejando; tudo ao redor era formado de pequenos lagos, repartidos aqui e acolá; quietos corriam rios, reflectindo em si o sol, as nuvens e a maravilhosa natureza. Aqui havia luz ininterruptamente, pois durante o dia iluminava o sol e durante a noite algumas estrelas o acompanhavam dando-lhe uma luminosidade azul.

Caminhamos por uma ampla estrada que nos levava a um esplêndido jardim, todo rodeado, a maneira de muralha, por uma fileira de ciprestes de espessa folhagem. Aqui, neste reino perfumado, nos detivemos. Fiquei, em seguida, impressionada pela beleza e pela variedade de cores que possuíam as flores daquele lugar, todas inocentes criaturas do Senhor. Algumas, entre elas, eram tímidas e modestas. Outras, ao contrário eram belíssimas, porém totalmente indiferentes à própria beleza. Nenhum pintor saberia reproduzir os tons e os matizes próprios destas flores. Algumas mudavam continuamente e em suas mudanças havia tão grande diferença que é literalmente impossível capa-las e descreve-las. Na terra não existem cores capazes de dar sequer uma pobre ideia desta maravilha. Ninguém na terra pode preparar perfumes que se possam igualar ao doce aroma das flores do Paraíso. Estas flores não produzem embriagues, somente um prazer intenso. Eu respirava, com uma alegria não humana, o ar impregnado daquele dulcíssimo sopro.

E não havia nem sequer uma flor que não atraísse com doce simpatia a minha alma. Eu sentia que em todas elas vive o Espírito Divino, ao qual as cores vivas e as inumeráveis formas servem de expressão, numa harmonia que pode ser claramente intuída.

Tudo aqui era belo. Sem ruído, semelhantes a leves borboletas voavam os anjos. De repente, através da folhagem de uma espessa vegetação, ouvi uma voz bem conhecida por mim, e reconheci a voz de minha querida mãe. Atirei-me para aquele lugar: a voz querida conservava seu encanto de outros tempos, e não via o momento de me encontrar com ela. Diante de nós apareceu um quiosque esculpido de pedra azul, parecida com turquesa nele vi minha mãe, formosa como nunca, alta, esbelta, envolta em véus vaporosos. Seus olhos eram idênticos aos que tivera em vida, porém o rosto era diferente. Também tinha a cintura mais delgada e os cabelos mais brilhantes e penteados de outra maneira. Seu rosto era todo liso, enquanto ao redor da cabeça brilhava uma auréola. E também brilhava uma auréola em torno de todos aqueles que estavam com ela. Ela lhes falava e eu escutava avidamente cada sílaba sua. Depois se levantou e chamou as amigas. Atrás dela ondeava um véu.

Ó que maravilhoso é poder ver, sã e formosa, a própria mãe morta um dia por mãos de miseráveis assassinos. Que belo voltar a vê-la no Paraíso, cheia de um bendito êxtase! Dificilmente se poderia repetir a alegria de minha alma, que seguia em sobressalto a cada movimento seu. Vi seus olhos pousar sobre a imensa amplidão da água, que era toda uma paleta de luzes e cores. Parei diante dela, comovida, ansiosa pela espera e, admirando seu aspecto, recordei minha infância e a chamei docemente: Mamã! E chorei, beijando-lhe as mãos, enquanto meu coração batia forte.

Porém ela não sentia a minha angustia nem minha ansiosa chamada, apenas olhava a eterna beleza das águas com um maravilhoso sorriso nos lábios. Abracei-a e encostei minha cabeça ao seu peito? Mamã! Porque estás tão indiferente aos carinhos de tua filha? Diz-me, mamã, pelo menos uma palavra! Porém ela estava calada. Acaso não me reconheces mais? E dizendo isso, beijava seus vestidos, mantendo-a abraçada, porém ela, vaporosamente me escapou. Eu fiquei muito triste: Companheiro, sou por acaso uma desconhecida para ela? Não – me respondeu ele – isso é porque tu pertences à terra e ela ao Paraíso. E assim nos fomos voando pelo crepúsculo azul. Por toda parte, em meio às flores, brilhavam luzes acesas em honra a Deus. Aqui não existe sol como em outros mundos; aqui a luz vem de Deus.

Voamos mais acima, porém quanto mais me elevava, mais crescia em minha alma uma grande tristeza, entrementes eu ia olhando cuidadosamente os montes e os bosques deste planeta, onde havia deixado minha mãe.

 

V

Como deveríamos visitar ainda outros planetas, re-emprendemos nossa viagem. Por cima de nós vimos uma belíssima estrela e para ela nos dirigimos. Mas quando chegamos perto, ela desapareceu. Havíamos entrado em uma cobertura de vapores que vagavam lentos pelo céu difundindo, por toda parte, sombra e frescura. Quando os transpusemos, vimos palmeiras altíssimas que pareciam tocar os céus e esparziam sombra ao redor com sua folhagem, prometendo repouso e quietude. Das palmas saíam frutos estranhos, grandes e cheirosos, de polpa rugosa, de diferentes formas; abaixo delas se estendiam, como alfombras, prados cobertos de flores. De vez em quando o azul do céu se adornava de raios multicores.

Este era o mais solene de todos os planetas; aqui havia inumeráveis tesouros: as montanhas eram de ouro e pedras preciosas, que deslumbravam os olhos. Nos lagos azuis a água era tranquila e não se ondulava, permanecendo sempre pura e cristalina. Descemos sobre um prado cheio de flores, onde as árvores frutíferas dobravam seus ramos até o solo. Eu colhia aqueles frutos, que pareciam dissolver-se na boca, porém não encontrava nenhuma semelhança com os frutos da terra. Sobre este descampado, uma fonte luminosa do céu espargia sua luz; seus raios rosados se espargiam pelo espaço, dando ao ambiente, tons muito delicados.

A erva era fina e atapetada como uma alfombra que cobria, por vontade divina, toda aquela mágica extensão; e das grandes alturas caíam brancas fileiras de cascatas. Aqui estão as moradas dos santos, me disse meu companheiro, e lhe perguntei então se no Paraíso havia diferença de tratamento entre as almas.

“Sim, disse meu companheiro, aqui a vida é diferente para cada uma destas almas, como são diferentes os planetas do Céu: cada um recebe a graça sempre dentro do limite de seus méritos terrenos, e não pode ser mais ampla ou maior do que isto. Certamente há uma grande diferença, porque os justos levaram apenas uma vida normal, sem fazer mal, e seguindo os mandamentos com os limites de suas próprias forças. Mas os outros, os santos, têm feito, em contrapartida, de sua vida um sacrifício de louvor a Deus e desprezando os bens deste mundo se entregaram completamente a Deus, vivendo somente uma vida espiritual. E muitos deles, que têm estado, todavia na terra, se tornaram quase espiritualizados; por meio deles o Senhor manifestava Seus sinais; e através deles criava milagres e através deles implorava que cumprissem Sua vontade”.

E vós, ó homens, conservai uma eterna memória deles, e sejam, as festas em sua memória (dos santos) uma recordação de louvor aos seus maravilhosos feitos. E que os homens amem e respeitem a vida espiritual, grande e santa, que eles levaram da terra.

Neste entretanto, ao nosso redor soavam harpas invisíveis e os santos passavam ligeiros sem que seus passos deixassem marcas. Seus movimentos, seus gestos e cantos eram de uma beleza nunca vista. De vez em quando, como relâmpagos, passavam anjos, cujo doce canto até agora ainda me ressoa aos ouvidos.

Entrei em uma morada e vi um santo que estava pensativo com os olhos fixos no espaço. E meu companheiro me explicou que este santo enviava seu pensamento a outro mundo, para se corresponder com um amigo. Depois saímos dali e voamos baixo, entre as moradas dos santos, e as pude admirar muito, com seus esplêndidos e perfumados jardins. Nestes jardins se recolhem os santos, com seus vestidos brancos e claros como o sol. Suas cabeças estavam rodeadas de uma claridade como de auréola dourada, e notei que esta luz somente emanava dos santos, derramando-se deles e iluminando tudo ao redor e até atrás deles se derramavam torrentes de luz dourada.

Diminuímos nosso voo, e nos detivemos em cima de um alto monte; e daqui pode ouvir uma campainha, que repercutia também em mim. Ouvia aqueles sons com a alma e compreendia que anunciavam aos anjos e aos santos a luminosa manhã. Era – compreendi em seguida – o alvorecer do dia puríssimo, o alvorecer da Santa Páscoa.  

Aquele repique não era outra coisa senão o ressoar das ondas jubilosas de gozo dos bem-aventurados. De repente, todos se levantaram para voar. E me parecia que um anjo me bateria com as asas ou me queimaria com um raio ardente. Onde havia ido meu companheiro, o protector de minha alma adormecida? Eu estava intranquila e comovida: o céu flamejava luzes vivíssimas e foi aqui que voltei a ver meu companheiro. Estava junto de mim! E me disse: Agora tu voltarás só, pelos céus esplendorosos, enquanto eu irei com os outros.

E aconteceu que, embora me sentisse uma nulidade em comparação com os santos, de improviso me cresceram nas espáduas, asas luminosas: Eu as abri ligeiramente; elas me elevaram pelo céu. Junto de mim disse uma voz: É preciso ensinar tudo à alma de um ser vivo. Me olhei e me vi com roupas novas. As asas me levaram cada vez mais alto e enquanto eu voava pelo azul infinito, não me acudia a mente nenhum pensamento.

Ao redor, os espaços infinitos. Que ilimitada distância! Meus olhos curiosos já não se assombravam com mais nada: no espaço infinito, sempre novos mundos, iguais em aparência, entretanto sempre novos me pareciam. Tudo era tão novo para mim que eu me esquecia até de mim mesma e ia vagando pelo céu, ligeira como um pássaro, ébria de espaço, cantando pela alegria desta vida imortal. O santo coro cantava os feitos da vida de Cristo na terra, enquanto com seu azul, o céu perfilava e rodeava maravilhosamente os corpos dos santos. Em seus olhos havia amor e beatitude: seus corpos eram transparentes sobre o fundo radioso do céu. Meus olhos buscavam com avidez cenas e aspectos desconhecidos da vida celeste. Por todas partes, novos mundos e infinitos espaços. Eu subia cada vez mais alto e não queria voltar mais para baixo: a antiga timidez tinha desaparecido e os espaços celestes já não me atemorizavam.

O PARAÍSO - Parte 2

VI

Assim entrei no Paraíso onde cada mínimo rumor de prece é como incenso nos ares. Que esplendoroso, amplo e luminoso era. Por todas as partes ardiam luzes, acesas pela própria mão do Criador. Os moradores, dignos do Paraíso, se estavam reunindo para a festa. Eu fiquei impressionada com a extraordinária beleza das flores e das grinaldas que adornavam os altares, diante dos quais se queimava incenso em honra ao Deus Criador.

 Que maravilhosa festa! Os formosos toucados estavam impregnados de aromas dulcíssimos, muito diferentes dos terrestres. Os vestidos não eram tecidos, porém havia árvores colossais que produziam grandes mantas, adequadas para cobrir-se. Eu tinha ouvido o rumor daquela folhagem que deixava cair no solo gotas de orvalho, e também vi outras plantas de folhas parecidas com asas de borboletas, gigantescas e multicores. Neste planeta os vestidos de cada um se reconheciam pela cor. Todos segundo seus próprios méritos: cada habitante do Paraíso tem suas cores, que se fixam e assim ficam para sempre. Há quem tenha amarelo, roxo, verde... 

Todas as coisas no Paraíso são multicores; assim, que cada um, segundo a sua cor, pertence a uma determinada categoria de almas. Estas podem vestir-se e adornar-se segundo esta categoria; se alguma destas almas quiser trocar seus esplêndidos vestidos com outro da mesma cor, porém não de outro matiz, podem fazer e então, o outro, deixado de lado, voa e se desfaz no ar. O efeito que se obtém é esplendidíssimo, e também as auréolas despendem chispas da várias cores.

Eu vi como iam chegando os anjos, com seus vestidos azuis a asas brancas que o vento movia. Que formosos eram em sua eterna juventude. Depois, a noite cobriu a abóbada celeste com véus escuros. Todos levantaram os olhos cheios de esperança e um coro dulcíssimo começou a cantar: Todos estão em Cristo e Cristo está em todos! O canto tinha uma harmonia que para descreve-la são inúteis as palavras. Todos esperavam em silêncio, imóveis, com os braços cruzados sobre o peito. Parece que algo os impedia de moverem-se; e a distância se ouvia o rumor de asas, enquanto se abriram milhares de novas flores e cantaram milhões de anjos. A mente, que vaga absorta em luminosos pensamentos compreende como se alguém o tivesse dito: Cristo Ressuscitou! e não pensa outra coisa. Todos choravam mansamente, tanto lhes havia comovido aquele doce canto.

O canto era cada vez mais forte, recordando o Calvário de Cristo: o Sagrado Templo do Universo ressoava de hinos sagrados. De repente todos se calaram de emoção: pressentia-se a presença de Cristo! Os pássaros haviam deixado de cantar e os anjos haviam parado de falar. Quieto também estava o bosque, até a pouco tão loquaz. Toda a natureza estava imóvel sentindo a festa de seu Senhor. Os anjos, na espera de Cristo, continham até a respiração. Foi então que do alto chegaram sons alegres coros, cantados somente por maravilhosos querubins. Estes tinham asinhas resplandecentes de ouro, todas tensas como as pétalas de uma flor, enquanto suas cabeças se inclinavam delicadamente. Ligeiras e suaves estas cabecinhas rodeavam a Cristo, e seu canto era sobre-humanamente doce. Eram miríades, e suas asas se moviam sem tréguas.

O esplendor do céu, entretanto as tornava ainda mais formosas: e as auréolas irisadas que os rodeava entrelaçavam-se entre si produzindo um efeito dos mais extraordinários; aumentavam as vibrações da música encantadora, aumentavam os acordes do jogo de luzes, aumentava a alegria das almas e uma onda de emoção invadia a intimidade da alma. Não podem ser encontradas as palavras exactas para descrever a imensidão daquela alegria e daquela felicidade. Esta alegria, e esta felicidade, não são como as conhecidas na terra: são eflúvios que fazem vibrar todo o ser, como se nos transportasse a um êxtase sublime. A alma, em tal momento é como se quisesse chorar e também cantar.

Reluzia Cristo, infinitas vezes mais que o esplendor do sol e ante a Luz que Dele emanava, tudo o mais se escurecia. Ao Seu redor, os querubins cantavam docemente: A natureza se adorna do Senhor! E vinham em direcção Dele, com as mãozinhas debaixo das asas, e desapareciam em Sua luz. Na amplidão do etéreo caminho estavam esparzidas flores em profusão, e rosas, em memória da ressurreição. Em torno de Cristo havia uma auréola que igualava em esplendor à soma da auréola de todas as criaturas. Seus olhos reluziam de amor: a cor de suas pupilas era a cor do Céu e suas vestes estavam entrelaçadas de claros raios.

O Espírito do Altíssimo brilhava em Seu rosto. Ele Se alegrou com todos os justos pela vitória sobre o inimigo e todas as almas tiverem um só alento junto de Cristo. E em seus rostos floresceram sorrisos ao ouvir a saudação: Glória ao Senhor! O som da música celeste, perfeita em seus acordes e ressonâncias, mesclava-se com a perfeita harmonia, tão diferente da música terrena que é impossível descrevê-la!

Há, nas notas, completamente desconhecidas aos ouvidos dos mortais, como que doçura e santidade. Esta música das esferas celestiais desperta nas almas dos ouvintes uma alegria tão luminosa e pura, que tudo o mais se esquece e se apaga; um único desejo toma todas as almas: render honra e glória continuamente ao Senhor! Cantaram logo em resposta, e apenas se calava um coro, ouro começava o mesmo canto.

Então se levantou a Virgem Maria e se pôs aos pés do Senhor, porém distante, resplandecendo no fulgor de seus raios, enquanto na parte oposta se ergueu o Arcanjo São Gabriel, que levantando uma fugida Cruz anunciou: Cristo Ressuscitou! E milhões de almas responderam: Em verdade, Ele ressuscitou!

Junto de mim passou um santo, e sua face me pareceu com a de alguém que eu não via há muito tempo. Tremendo de emoção, eu escutava o grito sempre crescente da multidão: Cristo ressuscitou! Cristo ressuscitou! E ao redor Dele havia muitíssimos cristãos, de todas as partes e seu amor igualmente animava a todos. Os querubins voavam por todos os lados, alegres, cantando louvores pela vida eterna. Seu canto punha a alma em êxtase, e os justos sabem bem que mil anos de feliz Paraíso passam como um só dia. Suave se ouvia um som de lira e o divino mundo estava impregnado daquela melodia encantadora. A cada passo aumentava a alegria e cada vez mais alto ressoava a oração. E eu vi como o irmão se encontrava com a irmã. Havia chegado a hora da data festiva e as almas voavam uma para a outra.

Não era uma reunião como as que estamos acostumados a ver aqui em nosso mísero mundo terreno. Ali as almas estão privadas de seus corpos, não têm necessidade de expressões exteriores para manifestar seu afecto, pelo que interagem apenas com um movimento da parte sensitiva da alma. E como todo o Paraíso está como que impregnado de amor, e tanto o ar do espaço está saturado dele, que por eles se transmite o amor, por meio de vibrações. Não há necessidade de falar: cada alma é transparente ao pensamento dos outros e nada se pode esconder.

Assim, quando se encontram os entes queridos que se amam, sua auréola cintilante irradia muitas vezes mais, pela alegria do encontro. Porém, ao mesmo tempo nunca se esquecem, por primeiro de tudo, de amar ao Senhor. E assim eu vi encontrar-se homens e mulheres muito diferentes, que haviam vivido em épocas distintas, porém todos se sentiam unidos ao Senhor. Ao redor, todo o firmamento despendia raios de luz vivíssima, como uma formidável expressão do Amor Universal.

Que outra alegria pode comparar-se a esta ternura infinita? Deus concedeu aqui o dom do Amor, e aqui não se fala mais que de amor, porém um amor santo, enlevado e não terreno. Aqui são desconhecidos os sofrimentos do amor terreno.

Depois que duas almas se haviam encontrado, entoando um hino, elas voavam ar afora em um êxtase amoroso. E eu disse a meu companheiro: Sem o amor, o Paraíso não seria perfeito! Pelo eu ele me disse: Aqueles que tenham amado em vida permanecem unidos no amor também depois da morte!

Tu me havias prometido – disse eu ao meu companheiro – me mostrar o dia de festa de meus pais. Porém, como, não os viste? Não, disse eu surpreendida! E ele falou: talvez não os tenhas reconhecido, mas entrementes, passaste precisamente junto deles. Nos dias de festa, quando os justos vêem a este planeta, é concedido a todos os parentes unir-se, gozando juntos a alegria do encontro. Eu te havia prometido uma coisa e a mantenho! Olha, estão aqui! Então eu os vi e verdadeiramente e reconheci a meus falecidos pais: e experimentei um infinito sentimento de amor, de ternura e de emoção. Porém eles desapareceram em seguida!

Olhando ao redor vi que todos tinham o mesmo aspecto inteligente e feliz, assim que ninguém necessitava de conselhos e ajudas, porque cada espírito já havia entendido tudo aquilo que Deus concede compreender as suas criaturas. E é tal que, se o Senhor oferecesse a quem tenha sido na terra um pobre mendigo, o voltar a vida terrena como um imperador, ou rei deste mundo, ele choraria suas mais cálidas e sinceras lágrimas, rogando ao Senhor que não o privasse nunca das alegrias celestiais. Ó, que doce é a vida no Paraíso!

 



 

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