PARAÍSO
Nesta Página da
Amen, pode encontrar a abordagem do Tema
Global do
● PARAÍSO ●
● O que é
o Paraíso ►
● Como foi
criado o Paraíso Celeste ►
● O
Paraíso nas Sagradas Escrituras ►
● O
Paraíso nas Revelações Privadas ►
● O Paraíso nas Revelações da Irmã Faustina Kovalska
no seu Diário ►
● O Paraíso nas Revelações da Fanny Moisseieva ►
● O que é
o Paraíso ▲
Podemos considerar
a existência de dois Paraísos: O Paraíso
Celeste e o Paraíso Terrestre.
O Paraíso
Celeste ou Paraíso Empíreo é o local que foi criado por
Deus para habitação dos Anjos, no Primeiro Dia da Criação, muito antes da
Criação de Adão e Eva.
Foi deste Paraíso
Empíreo que os anjos rebeldes, ou demónios, foram expulsos e lançados no Inferno, local tenebroso que se situa
nas zonas cavernosas do centro da Terra, de onde só saem para tentar a
humanidade.
É também para este
Paraíso Celeste que vão todas as almas dos que souberam conquistar a Vida
Eterna, Graças aos méritos da Redenção de Jesus Cristo, às boas obras que
praticaram com amor na sua vida terrena e devido ao seu amor a Deus e aos homens.
O Paraíso
Celeste engloba
vários Céus de que se fala no
Pai-Nosso, e que se encontra relatado nos Evangelhos:
Mateus 6,9 9Pai nosso que estais nos Céus,
santificado seja o Vosso nome…
João 14,2 2Na casa de meu Pai há muitas moradas; se
não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos um lugar.
É
para estes diversos Céus que irão
todas as criaturas que tiveram vida terrena, ou seja, que tiveram uma Alma, mas
que não tiveram um Espírito. Estas criaturas que habitarão estes Céus não gozarão da mesma Glória
daqueles que forem para o Céu onde
está a Santíssima Trindade.
Também
existem Céus próprios para os que tiveram Espírito, mas que não foram
baptizados, como por exemplo os abortados. Eles não terão consciência de que
existem outros Céus mais Gloriosos.
Em
todos estes Céus há diferentes
níveis de proximidade de Deus, bem como de Glória.
Aquele
em que há uma maior Glória e proximidade da Santíssima Trindade, é aquele Céu reservado aos Anjos e Santos, nos
quais se incluem todos os Baptizados dentro da Igreja Católica, que mereceram a
Salvação Eterna e que se purificaram no Purgatório.
Neste
Céu, onde está a Santíssima
Trindade, digamos assim, só se encontram os que professaram a Religião Católica, quer se tenham convertido durante
a sua vida terrena, quer só se tenham convertido no Purgatório. Esta
purificação no Purgatório, inclui a adesão total a Jesus Cristo e à Sua Igreja,
logo, à Conversão à Religião Católica.
O Paraíso
Terrestre foi criado muito mais
tarde, logo antes da criação de Adão, onde ele havia de habitar com Eva e onde
foram plantadas as Árvores da Vida e a Árvore da Ciência. Este Paraíso Terrestre
perdeu-se e só há-de ser reconstruído nos Novos Céus e Nova Terra para acolher
os que forem arrebatados no Fim do Mundo e devolvidos à Terra, para Reinar com
Jesus Cristo após a Sua Vinda Gloriosa.
● Como foi
criado o Paraíso Celeste ▲
A Criação do
Universo e de todas as suas criaturas foi antecedida na mente Divina, por um Plano da Criação. Enquanto o Génesis
nos relata a Criação, o Plano de Deus ficou-nos relatado na extraordinária obra
a Mística
Cidade de Deus.
Foi na “Mística Cidade de Deus” , escrito por
Sor Maria de Jesus de Agreda, que fui buscar muito do material com que construí
os Dossiers da Amen sobre a Criação do Universo e do Resumo da Mística
Cidade de Deus.
Passo a apresentar
alguns dos extractos do Resumo sobre a Mística Cidade de Deus.
Para melhor
compreendermos este Plano da Criação, Maria de Jesus de Agreda dividiu-o em 6
instantes, tendo a sua realização se verificado no Primeiro Dia da Criação, e que descrevi em Plano da Criação. No 5º Instante foi
determinado a Criação da Natureza Angélica e do Céu Empíreo, que ficou assim
descrito:
5º Instante Æ MCD-1-47 47 - … A este instante pertence a predestinação dos bons e
condenação dos maus Anjos; nele viu e conheceu Deus, com Sua infinita ciência, todas
as obras de uns e de outros, na sua devida ordem, para predestinar com Sua
livre vontade e liberal misericórdia os que Lhe iriam obedecer e reverenciar e
para condenar com Sua justiça os que se iriam levantar contra Sua Majestade, em
soberba e desobediência, por seu desordenado amor próprio. E ao mesmo instante pertence a
determinação de criar o céu empíreo, onde se manifestasse a Sua glória e nela
premiasse os bons,…
Depois
veio então a concretização deste Plano Divino, isto é, a Criação propriamente
dita.
● 1º DIA DA CRIAÇÃO Æ
Gn-1,1-3 “1 No princípio, Deus criou os céus e a terra. 2A terra era informe e vazia. As trevas
cobriam o abismo, e o Espírito de Deus movia-Se sobre a superfície das águas.
3 Deus disse: "Faça-se a luz!" E a luz foi feita.
MCD-1-81 81 - … E para que a ordem fosse também perfeitíssima, antes de criar
criaturas intelectuais e racionais, formou o Céu para os Anjos e homens, e a
terra, onde primeiro os mortais iriam ser viadores; …
MCD-1-82 82 - Da terra, diz Moisés que estava vazia e o
mesmo não diz do Céu, porque neste
criou os Anjos, no instante em que diz Moisés: "Disse Deus; faça-se a luz e a
luz foi feita"; com
efeito, não fala apenas da luz material, mas também das luzes angélicas ou
intelectuais.
MCD-1-122 122 - … O primeiro dia, que corresponde ao
domingo, foram criados os Anjos e foram-lhes dadas leis e preceitos a que
deviam obedecer; e os maus desobedeceram e trespassaram os mandatos do Senhor; …
MCD-1-87 87 - … determinou
a Divina Providência manifestar-lhes, imediatamente depois da sua criação, o
fim para que os tinha criado com natureza tão elevada e excelente.
Uma pontinha do véu
é levantada sobre o ambiente do Paraíso, quando, na Mística Cidade de Deus, é relatada a Assunção da Virgem Maria ao
Paraíso Celeste, pois das maiores alegrias do Céu é a Visão da Santíssima
Trindade e da Virgem Maria.
MCD-3-742 742 - Aquela alma puríssima passou de Seu
virginal corpo à destra e trono de Seu Filho Santíssimo onde, num instante, foi
colocada com imensa glória. Começou-se a ouvir que a música dos Anjos ia se afastando
na região do ar, porque a procissão dos Anjos e santos, acompanhando seu Rei e
Rainha, encaminhou-se para o Céu Empíreo. O sagrado corpo de Maria Santíssima
que fora templo e sacrário de Deus vivo, ficou cheio de luz e resplendor,
desprendendo tão admirável fragrância, que encheu a todos os circunstantes de
suavidade interior e exterior. Os mil Anjos custódios de Maria Santíssima
ficaram guardando o precioso tesouro de Seu virginal corpo. Os Apóstolos e
discípulos, entre lágrimas de dor e alegria, pelas maravilhas que presenciaram,
permaneceram absortos por algum tempo e, em seguida, cantaram muitos hinos e
salmos em honra da falecida Senhora.
MCD-3-762 762 - Entrou no Céu Empíreo nosso Redentor
Jesus, conduzindo à Sua direita a alma puríssima de Sua Mãe. Só Ela, entre
todos os mortais, não teve matéria para o juízo particular, nem se lhe pediu
contas. Assim Lhe foi concedido, quando a fizeram isenta da culpa comum, eleita
Rainha dispensada das Leis a que estão sujeitos os filhos de Adão. Pela mesma razão,
no Juízo Universal não será julgada como os outros, mas virá à direita de seu
Filho Santíssimo, participando no julgamento de todas as criaturas. No primeiro
instante de Sua Conceição, foi aurora claríssima e refulgente, retocada com os
raios do sol da Divindade, acima das luzes dos mais ardentes Serafins. Depois,
elevou-se até tocar a própria Divindade, ao se tornar Mãe do Verbo encarnado,
Cristo. Era, portanto, consequente, que por toda a eternidade fosse Sua
companheira, com a maior semelhança possível entre Filho e Mãe; Ele Deus e
Homem, e Ela pura criatura. Com este título, o Redentor apresentou-A diante do
trono da Divindade. Na presença de todos os Bem-Aventurados, atentos a esta
maravilha, a Humanidade santíssima disse ao Eterno Pai: Meu Eterno Pai, minha
Mãe amantíssima, vossa Filha querida e Esposa mimoseada do Espírito Santo, vem
receber a posse da coroa e glória que lhe preparámos, como recompensa de Seus
méritos. Nasceu entre os filhos de Adão, como rosa entre espinhos, intacta,
pura e formosa digna de que a recebamos em Nossas mãos e no lugar onde não
chegou nenhuma de nossas criaturas, nem podem chegar os concebidos em pecado. E
A nossa escolhida, única e singular, a quem demos graça e participação em
Nossas perfeições, ultrapassando a norma comum às outras criaturas; nela
depositamos os tesouros e dons de Nossa incompreensível divindade, e Ela, com a
máxima fidelidade, os guardou e fez lucrar os talentos que Lhe demos; nunca se
afastou de Nossa vontade, achou Graça (Lc 1, 30) e complacência a Nossos olhos. Meu Pai,
rectíssimo é o tribunal de Vossa misericórdia e Justiça, e nele se pagam os
serviços de nossos amigos, com superabundante recompensa. Justo é que à minha
Mãe se dê o prémio de Mãe; e se em toda Sua vida e obras foi semelhante a Mim,
no grau possível à pura criatura, também o há de ser na glória; tenha lugar no trono de Nossa Majestade para que, onde está a
santidade por essência, esteja também a máxima santidade por participação.
MCD-3-769 769 - Com esta glória, chegou Maria Santíssima,
em corpo e alma, ao trono real da Santíssima Trindade, onde foi recebida pelas
três divinas Pessoa s, em amplexo indissolúvel. O eterno Pai lhe disse: Sobe
mais alto que todas as criaturas, Minha escolhida, Minha filha e Minha pomba. O
Verbo humanado: Minha Mãe, de quem recebi a natureza humana e o retorno de
minhas obras que perfeitamente imitaste, recebe agora de Minha mão a recompensa
que mereceste. O Espírito Santo: Minha amantíssima Esposa, entra no gozo eterno
correspondente a teu fidelíssimo Amor, e goza sem receios, pois já passou o
Inverno do padecer (Ct 2, 11) e chegaste à posse eterna de nossos abraços. Ali
ficou Maria Santíssima absorta entre as Divinas Pessoas, mergulhada naquele
pélago interminável e abissal da Divindade, enquanto os santos se enchiam de
admiração e novo gozo acidental.
● O
Paraíso nas Sagradas Escrituras ▲
Algumas
referências nas Sagradas Escrituras:
O
Paraíso aparece-nos referido em:
Lucas 23,43 43Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no
paraíso.
João 14,2 2Na casa de meu Pai há muitas moradas; se
não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar.
II Coríntios 12,4 4que foi arrebatado ao paraíso, e ouviu palavras inefáveis, as quais
não é lícito ao homem referir
Apocalipse 2,7 7Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz
às igrejas. Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no
paraíso de Deus
Já
o Céu, como lugar onde se encontra Deus, nos aparece referido inúmeras vezes.
Mat 5,34 34Eu, porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis; nem pelo Céu,
porque é o trono de Deus.
Mat 6,10 10venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no
Céu.
Mat 6,20 20mas ajuntai para vós tesouros no Céu,
onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem
roubam.
Mat 18,18 18Em verdade vos digo: Tudo quanto ligardes
na terra será ligado no Céu; e tudo quanto desligardes na terra será
desligado no Céu.
Mat 19,21 21Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito,
vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no Céu;
e vem, segue-me.
Mat 22,30
30pois na ressurreição nem se casam nem se
dão em casamento; mas serão como os anjos no Céu.
● O
Paraíso nas Revelações Privadas ▲
Para além das
valiosas revelações que nos foram feitas na Mística Cidade de Deus, em
quase todas as Revelações Privadas há
a referência ao Paraíso e o encorajamento para o conquistarmos.
Também Maria Valtorta teve visões do Paraíso e
dele falou nos Cadernos de 1944 no
dia 25 de Maio.
Vou
apresentar algumas passagens mais recentes e significativas que contêm uma
ténue descrição.
● O Paraíso nas Revelações da
Irmã Faustina Kovalska no seu Diário ►
● O Paraíso nas Revelações a
Fanny Moisseieva ►
● O Paraíso
nas Revelações da Irmã Faustina Kovalska
no seu Diário ▲
Diário da Santa
M. Faustina Kovalska - Números 777 - 780
777 - (187) 27.XI.[1936]. Hoje
estive no Céu, em espírito, e contemplei as indescritíveis belezas e a bem-aventurança
que nos esperam depois da morte. Vi como todas as criaturas prestam
incessantemente louvor e glória a Deus. Observei quão grande a beatitude em
Deus, que a derrama sobre todas as criaturas, tornando-as felizes; e então toda
a glória e louvor provenientes dessa felicidade, retornam à sua fonte; entram
na profundidade de Deus, contemplando a Sua vida interior, o Pai, o Filho e o
Espírito Santo, a Quem jamais hão-de compreender ou sondar.
Essa Fonte de beatitude é
imutável na sua essência, entretanto sempre nova, jorrando para a felicidade
de toda a criatura. Compreendo agora S. Paulo, que disse: "Nem o olho
viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais penetrou no coração do homem o que Deus
preparou para aqueles que O amam."
778 - E Deus deu-me a conhecer uma única coisa que, a Seus olhos, tem
infinito valor, que é o amor a Deus; amor, amor, e mais uma vez amor — e nada
se pode comparar (188) a um só acto de puro amor a Deus. Oh, que inconcebíveis
favores Deus concede à alma que sinceramente O ama! Ó bem-aventurada aquela
alma que goze, já aqui na Terra, dos Seus especiais dons! E essas são as almas
pequenas e humildes.
779 - Diante dessa imensa Majestade de Deus, que
vim a conhecer mais profundamente, e que os espíritos celestes glorificam de
acordo com o grau de graça e a hierarquia em que se dividem, a minha alma não
ficou estarrecida de pânico nem de terror, não, não, de modo nenhum! Sentiu-se
antes repleta de paz e de amor e, quanto mais conheço essa grandeza de Deus,
tanto mais rejubilo por Ele ser como é. E alegro-me imensamente com esta Sua
grandeza, deliciando-me em eu ser tão pequenina, porque, assim menina, é Ele
Quem me toma nos braços e me leva até bem junto ao Seu Coração.
780 - Ó meu Deus, como me fazem pena as pessoas que não crêem na vida
eterna; e quanto rezo por elas, para que também sejam envolvidas pelo raio da
Misericórdia e mereçam ser aconchegadas no paternal seio de Deus! ÓAmor, ó Rei!
● O Paraíso
nas Revelações
a Fanny Moisseieva ▲
Apresento
seguidamente alguns extractos da Obra de Fanny Moisseieva - MEU SONHO LETÁRGICO DE
NOVE DIAS.
Pode ler a obra
completa em:
● MEU SONHO
LETÁRGICO DE NOVE DIAS ►
I
…
Voltei-me como a despertar, abri os olhos e de pronto fiquei
deslumbrada com um amplo azul que se estendia diante de mim numa grande distância.
O tempo que havia passado entre as trevas infernais havia ofuscado meus olhos:
aqui, diferentemente, a luz se derramava em torrentes e seus raios atingiam
tudo ao redor.
…
Elas me disseram: Irmã:
levanta-te! Estás agora no Reino do Pai Celeste, cujo Espírito vive em todas as
coisas. Estás aqui, por Sua vontade, para que o homem não se extravie na
dúvida, em busca inútil, para que possas contar na terra a nossa vida aqui,
porque a viste.
Aqui, em contrapartida, é o Paraíso, cheio de toda a perfeição, e
Deus reina gloriosamente nele, entre os doces cantos dos serafins, enquanto, em
todas as partes florescem plantas e maduram frutos. Aqui podem viver somente as
almas santas; aqui está a fonte dos pensamentos superiores e das idéias
sublimes. A água dos regatos é pura e as asas dos anjos têm um esplendor
prateado. Aqui ninguém trabalha e todos gozam dos bens que foram criados para os
justos.
Uma delas trazia uma pedra preciosa, diferente das terrestres e tão
grande que só a duras penas puder recolhe-la. A quem pertence esta pedra,
perguntei. Posso
levá-la comigo? Vale muito?
Certamente – me respondeu – seu
valor é considerável: vosso mundo não possui pedras similares e nem toda a
terra seria suficiente para comprar uma só delas, porém acima, o Senhor as dá a
todos que chegam a Ele. Se estás cansada, podes deixa-la no solo, que ninguém a
tocará. Tu despertaste a pouco e não tens visto ainda nada ao teu redor. Olha
quantas pedras aqui, e ainda mais belas que aquela. Aqui nada se vende nem se
compra, porque aqui são inumeráveis as coisas raras. Se tu estivesses aqui há
muito tempo, te asseguro que nem as terias tocado. Aqui existem pedras
preciosas em tão grande quantidade que já não fazemos caso delas. Nossa alegria
são as festas, que nos dão a possibilidade de voar por todos os astros e
admirar a glória do Senhor. Nestes dias nos encontramos também com nossos entes
queridos. Nas festas, só nas festas, vemos nossos parentes e amigos.
De pronto ouvi uma música dulcíssima: deixei cair a pedra preciosa
e partimos daquele lugar. Ao redor de nós havia um dulcíssimo perfume de flores
do Paraíso. Junto a uma sonora cascata nos detivemos e admiramos a esplêndida
paisagem. Então meu companheiro se uniu a comitiva e, pondo sobre minha cabeça
uma grinalda de flores em forma de coroa disse: Aqui
há sempre uma bela primavera! Em todo o redor se erguiam majestosas palmeiras,
que murmuravam, movidas por uma leve brisa que fazia mover as suas folhas.
Naquele jardim havia um grande número de alamedas frondosas e caminhos, porém
não se via ninguém andando por eles. Meu companheiro me guiava e me levava
sempre adiante, e mostrando-me vários objectos, para mim de todo desconhecidos
e sobre eles me ia explicando, porém eu não sabia dar-lhes um nome em nossa
linguagem humana. Nem poderia descrever sua beleza, porque a linguagem da terra
é demasiado pobre.
Agora te mostrarei – disse
meu companheiro – os outros planetas nos quais talvez, um dia viverão
eternamente as almas daqueles que na terra foram de outras religiões, mas
viveram uma vida reta, e acreditaram num único Deus. E naquele mesmo
instante nos encontramos sobre estes planetas sobre os quais me ia falando meu
companheiro. Eram formosos por sua cor e me quedei admirada por sua paisagem.
Mas meu companheiro me disse que sua beleza era muito inferior ao brilho do
paraíso dos cristãos.
Como me havia indicado meu companheiro, estavam por hora desertos e
somente o canto dos pássaros rompia o grande silêncio, enquanto vez por outra
coros de anjos voavam por cima cantando hinos ao Criador. Agora chegamos aos
mundos onde estão as almas dos cristãos.
…
II
Durante o voo eu admirava distintos e maravilhosos aspectos da vida
celeste. Na passagem encontrávamos grandes e luminosos cometas de cauda
flamejante. Alguns tinham três caudas e se iam voando pelo espaço infinito,
deixando em sua passagem estrelas douradas. No fundo céu via as estrelas que de
repente se separavam de sua rota e se precipitavam no infinito, sozinhas ou em
grupos de milhares, formando como que um nuvem de ouro cintilante. Às vezes, em
meio a estes mundos, passavam velozes esferas ardentes que deslumbravam a
vista. Todo este espectáculo era tão grandioso e inconcebível que eu percebi
que tudo aquilo era ainda e apenas uma pequeníssima gota do imenso mar do
criado, e quão perfeito e Omnipotente é Deus, Criador e Senhor do Universo.
E dirigindo-se a mim, meu companheiro disse: Não existe na terra nenhum
mistério que seja comparável em grandeza ao do além túmulo. O homem pode
subjugar as forças da natureza, porém não poderá nunca saber o mistério do
além. E indicando-me o Céu falou: Vês
estes pontos luminosos? São planetas sobre os quais existe uma vida eterna,
porém estão separados da terra por um espaço inacessível. Depois, continuando
nosso vôo, fomos chegando a um planeta que fazia tempo brilhava entre os
outros, similar em forma à terra, porém de dimensão menor. Quando chegamos,
observei que o solo de uma cor diferente da terra: era pardo e roxo claro.
Eu me assombrei também pelo imenso número de rios que cortavam a
planície em todas as direcções. Havia também lagos, porém a natureza em geral se
diferenciava da terrena. Até o
ar era diferente, porque eu respirava mais livremente. Tudo ao redor era festa
de cores. A água dos rios e dos lagos era azul turquesa e não pelo reflexo do
Céu, mas sim pela própria faculdade. No horizonte se erguiam montanhas
altíssimas de uma cor violeta escuro. Nos achegamos aos bem-aventurados que
estavam ali.
Eles contavam a um novo hóspede do paraíso, chegado fazia pouco
tempo, a grandeza e a Glória do Senhor, sua Majestade; a sabedoria que concede
a eles, a liberdade que gozam ali, onde não se lhes opõe nenhuma barreira nem
espaço; sua clarividência, pela qual eles experimentam grandes satisfações.
Passa o tempo, os séculos se sucedem, porém nenhum teme esta carreira, e
ninguém tem qualquer inimigo. E nos
dias de festa nossa alma espera a reunião como seus entes queridos e não pede
outra coisa.
Calaram-se, e então ressoou um hino sagrado. Eu olhava cheia de
admiração a estes bons seres, almas sensíveis que rezavam e conheceram na terra
a piedade e souberam apreciar o trabalho dos homens. Sobre isso me falou meu
companheiro quando lhe perguntei por quais caminhos terrenos se pode chegar a
este reino.
Subimos até bem alto para admirar o panorama do vale, e um
espectáculo grandioso se nos apresentou. Amplas extensões de prados, adornados
de esplêndidas flores e árvores curvadas até o chão pelo peso de frutos
dourados. Do alto descia um claro raio de luz sobre a floresta de folhagem
murmurante. Era o mais esplêndido bosque que eu já vira, e dava frutos que não
são vistos na terra, alguns dos quais tinham um aroma como de vinho perfumado.
Detive-me ali por longo tempo, fascinada por aquele espectáculo maravilhoso, e
enquanto meus olhos apreciavam tudo, a natureza parecia dizer: tudo isso é dom eterno para
os justos.
“Agora que vês o reino do além – me
disse meu companheiro – é bom
que saibas que as almas dos justos às vezes podem descer à terra porém
invisíveis a todos. E isso sucede em dias de festa, quando se lhes concede ir a
visitar os seus amigos e sua tumba vazia. Mas apenas seus queridos tenham
abandonado a terra, esta se volta aos justos, completamente indiferente aos que
deixou. Te mostrarei agora a região onde vive eternamente tua mãe.
III
Depois de haver admirado longamente este quadro que me alegrou
verdadeiramente, nos dirigimos voando até o local onde se encontrava minha mãe.
Chegamos logo nas proximidades de um planeta de dimensões tão excepcionais, que
me pareceu ser muitas vezes maior que a terra. Era meio dia e o sol estava
pleno. O céu era de um azul puríssimo e estava levemente marcado por
nuvenzinhas alvíssimas. Vi os flancos das montanhas brilhar de ouro e prata;
pedras preciosas de muitas cores pareciam ter sido espalhadas entre as rochas
por uma pródiga mão; corriam Arroios e prateadas cascatas iam gotejando; tudo
ao redor era formado de pequenos lagos, repartidos aqui e acolá; quietos
corriam rios, reflectindo em si o sol, as nuvens e a maravilhosa natureza. Aqui
havia luz ininterruptamente, pois durante o dia iluminava o sol e durante a
noite algumas estrelas o acompanhavam dando-lhe uma luminosidade azul.
Caminhamos por uma ampla estrada que nos levava a um esplêndido
jardim, todo rodeado, a maneira de muralha, por uma fileira de ciprestes de
espessa folhagem. Aqui, neste reino perfumado, nos detivemos. Fiquei, em
seguida, impressionada pela beleza e pela variedade de cores que possuíam as
flores daquele lugar, todas inocentes criaturas do Senhor. Algumas, entre elas,
eram tímidas e modestas. Outras, ao contrário eram belíssimas, porém totalmente
indiferentes à própria beleza. Nenhum pintor saberia reproduzir os tons e os
matizes próprios destas flores. Algumas mudavam continuamente e em suas
mudanças havia tão grande diferença que é literalmente impossível capa-las e
descreve-las. Na terra não existem cores capazes de dar sequer uma pobre ideia
desta maravilha. Ninguém na terra pode preparar perfumes que se possam igualar
ao doce aroma das flores do Paraíso. Estas flores não produzem embriagues,
somente um prazer intenso. Eu respirava, com uma alegria não humana, o ar
impregnado daquele dulcíssimo sopro.
E não havia nem sequer uma flor que não atraísse com doce simpatia
a minha alma. Eu sentia que em todas elas vive o Espírito Divino, ao qual as
cores vivas e as inumeráveis formas servem de expressão, numa harmonia que pode
ser claramente intuída.
Tudo aqui era belo. Sem ruído, semelhantes a leves borboletas
voavam os anjos. De repente, através da folhagem de uma espessa vegetação, ouvi
uma voz bem conhecida por mim, e reconheci a voz de minha querida mãe. Atirei-me
para aquele lugar: a voz querida conservava seu encanto de outros tempos, e não
via o momento de me encontrar com ela. Diante de nós apareceu um quiosque
esculpido de pedra azul, parecida com turquesa nele vi minha mãe, formosa como
nunca, alta, esbelta, envolta em véus vaporosos. Seus olhos eram idênticos aos
que tivera em vida, porém o rosto era diferente. Também tinha a cintura mais
delgada e os cabelos mais brilhantes e penteados de outra maneira. Seu rosto
era todo liso, enquanto ao redor da cabeça brilhava uma auréola. E também
brilhava uma auréola em torno de todos aqueles que estavam com ela. Ela lhes
falava e eu escutava avidamente cada sílaba sua. Depois se levantou e chamou as
amigas. Atrás dela ondeava um véu.
Ó que maravilhoso é poder ver, sã e formosa, a própria mãe morta um
dia por mãos de miseráveis assassinos. Que belo voltar a vê-la no Paraíso,
cheia de um bendito êxtase! Dificilmente se poderia repetir a alegria de minha
alma, que seguia em sobressalto a cada movimento seu. Vi seus olhos pousar
sobre a imensa amplidão da água, que era toda uma paleta de luzes e cores.
Parei diante dela, comovida, ansiosa pela espera e, admirando seu aspecto,
recordei minha infância e a chamei docemente: Mamã! E chorei, beijando-lhe as
mãos, enquanto meu coração batia forte.
Porém ela não sentia a minha angustia nem minha ansiosa chamada,
apenas olhava a eterna beleza das águas com um maravilhoso sorriso nos lábios.
Abracei-a e encostei minha cabeça ao seu peito? Mamã! Porque estás tão
indiferente aos carinhos de tua filha? Diz-me, mamã, pelo menos uma palavra!
Porém ela estava calada. Acaso não me reconheces mais? E dizendo isso, beijava
seus vestidos, mantendo-a abraçada, porém ela, vaporosamente me escapou. Eu
fiquei muito triste: Companheiro, sou por acaso uma desconhecida para ela? Não – me respondeu ele – isso é porque tu pertences
à terra e ela ao Paraíso. E assim nos fomos voando pelo crepúsculo azul. Por
toda parte, em meio às flores, brilhavam luzes acesas em honra a Deus. Aqui não
existe sol como em outros mundos; aqui a luz vem de Deus.
Voamos mais acima, porém quanto mais me elevava, mais crescia em
minha alma uma grande tristeza, entrementes eu ia olhando cuidadosamente os
montes e os bosques deste planeta, onde havia deixado minha mãe.
…
V
Este era o mais solene de todos os planetas; aqui havia inumeráveis
tesouros: as montanhas eram de ouro e pedras preciosas, que deslumbravam os
olhos. Nos lagos azuis a água era tranquila e não se ondulava, permanecendo
sempre pura e cristalina. Descemos sobre um prado cheio de flores, onde as
árvores frutíferas dobravam seus ramos até o solo. Eu colhia aqueles frutos,
que pareciam dissolver-se na boca, porém não encontrava nenhuma semelhança com
os frutos da terra. Sobre este descampado, uma fonte luminosa do céu espargia
sua luz; seus raios rosados se espargiam pelo espaço, dando ao ambiente, tons
muito delicados.
A erva era fina e atapetada como uma alfombra que cobria, por
vontade divina, toda aquela mágica extensão; e das grandes alturas caíam
brancas fileiras de cascatas. Aqui
estão as moradas dos santos, me disse
meu companheiro, e lhe perguntei então se no Paraíso havia diferença de
tratamento entre as almas.
“Sim, disse
meu companheiro, aqui a vida é diferente para cada uma destas almas, como são
diferentes os planetas do Céu: cada um recebe a graça sempre dentro do limite
de seus méritos terrenos, e não pode ser mais ampla ou maior do que isto.
Certamente há uma grande diferença, porque os justos levaram apenas uma vida
normal, sem fazer mal, e seguindo os mandamentos com os limites de suas
próprias forças. Mas os outros, os santos, têm feito, em contrapartida, de sua
vida um sacrifício de louvor a Deus e desprezando os bens deste mundo se
entregaram completamente a Deus, vivendo somente uma vida espiritual. E muitos
deles, que têm estado, todavia na terra, se tornaram quase espiritualizados;
por meio deles o Senhor manifestava Seus sinais; e através deles criava
milagres e através deles implorava que cumprissem Sua vontade”.
E vós, ó homens, conservai uma eterna memória deles, e sejam, as
festas em sua memória (dos
santos) uma recordação de louvor aos seus maravilhosos feitos. E que os
homens amem e respeitem a vida espiritual, grande e santa, que eles levaram da
terra.
Neste entretanto, ao nosso redor soavam harpas invisíveis e os
santos passavam ligeiros sem que seus passos deixassem marcas. Seus movimentos,
seus gestos e cantos eram de uma beleza nunca vista. De vez em quando, como
relâmpagos, passavam anjos, cujo doce canto até agora ainda me ressoa aos
ouvidos.
Entrei em uma morada e vi um santo que estava pensativo com os
olhos fixos no espaço. E meu companheiro me explicou que este santo enviava seu
pensamento a outro mundo, para se corresponder com um amigo. Depois saímos dali
e voamos baixo, entre as moradas dos santos, e as pude admirar muito, com seus
esplêndidos e perfumados jardins. Nestes jardins se recolhem os santos, com
seus vestidos brancos e claros como o sol. Suas cabeças estavam rodeadas de uma
claridade como de auréola dourada, e notei que esta luz somente emanava dos
santos, derramando-se deles e iluminando tudo ao redor e até atrás deles se
derramavam torrentes de luz dourada.
Diminuímos nosso voo, e nos detivemos em cima de um alto monte; e
daqui pode ouvir uma campainha, que repercutia também em mim. Ouvia aqueles
sons com a alma e compreendia que anunciavam aos anjos e aos santos a luminosa
manhã. Era – compreendi em seguida – o alvorecer do dia puríssimo, o alvorecer
da Santa Páscoa.
Aquele repique não era outra coisa senão o ressoar das ondas
jubilosas de gozo dos bem-aventurados. De repente, todos se levantaram para
voar. E me parecia que um anjo me bateria com as asas ou me queimaria com um
raio ardente. Onde havia ido meu companheiro, o protector de minha alma
adormecida? Eu estava intranquila e comovida: o céu flamejava luzes vivíssimas
e foi aqui que voltei a ver meu companheiro. Estava junto de mim! E me disse: Agora tu voltarás só, pelos
céus esplendorosos, enquanto eu irei com os outros.
E aconteceu que, embora me sentisse uma nulidade em comparação com
os santos, de improviso me cresceram nas espáduas, asas luminosas: Eu as abri
ligeiramente; elas me elevaram pelo céu. Junto de mim disse uma voz: É preciso ensinar tudo à
alma de um ser vivo. Me
olhei e me vi com roupas novas. As asas me levaram cada vez mais alto e
enquanto eu voava pelo azul infinito, não me acudia a mente nenhum pensamento.
Ao redor, os espaços infinitos. Que ilimitada distância! Meus olhos
curiosos já não se assombravam com mais nada: no espaço infinito, sempre novos mundos,
iguais em aparência, entretanto sempre novos me pareciam. Tudo era tão novo
para mim que eu me esquecia até de mim mesma e ia vagando pelo céu, ligeira
como um pássaro, ébria de espaço, cantando pela alegria desta vida imortal. O
santo coro cantava os feitos da vida de Cristo na terra, enquanto com seu azul,
o céu perfilava e rodeava maravilhosamente os corpos dos santos. Em seus olhos
havia amor e beatitude: seus corpos eram transparentes sobre o fundo radioso do
céu. Meus olhos buscavam com avidez cenas e aspectos desconhecidos da vida
celeste. Por todas partes, novos mundos e infinitos espaços. Eu subia cada vez
mais alto e não queria voltar mais para baixo: a antiga timidez tinha
desaparecido e os espaços celestes já não me atemorizavam.
VI
Que maravilhosa festa! Os formosos toucados estavam
impregnados de aromas dulcíssimos, muito diferentes dos terrestres. Os vestidos
não eram tecidos, porém havia árvores colossais que produziam grandes mantas,
adequadas para cobrir-se. Eu tinha ouvido o rumor daquela folhagem que deixava
cair no solo gotas de orvalho, e também vi outras plantas de folhas parecidas
com asas de borboletas, gigantescas e multicores. Neste planeta os vestidos de
cada um se reconheciam pela cor. Todos segundo seus próprios méritos: cada habitante
do Paraíso tem suas cores, que se fixam e assim ficam para sempre. Há quem
tenha amarelo, roxo, verde...
Todas as coisas no Paraíso são multicores; assim, que cada um,
segundo a sua cor, pertence a uma determinada categoria de almas. Estas podem vestir-se
e adornar-se segundo esta categoria; se alguma destas almas quiser trocar seus
esplêndidos vestidos com outro da mesma cor, porém não de outro matiz, podem
fazer e então, o outro, deixado de lado, voa e se desfaz no ar. O efeito que se
obtém é esplendidíssimo, e também as auréolas despendem chispas da várias
cores.
Eu vi como iam chegando os anjos, com seus vestidos azuis a asas
brancas que o vento movia. Que formosos eram em sua eterna juventude. Depois, a
noite cobriu a abóbada celeste com véus escuros. Todos levantaram os olhos
cheios de esperança e um coro dulcíssimo começou a cantar: Todos estão em Cristo e
Cristo está em todos! O canto tinha uma harmonia que para descreve-la são
inúteis as palavras. Todos esperavam em silêncio, imóveis, com os braços
cruzados sobre o peito. Parece que algo os impedia de moverem-se; e a distância
se ouvia o rumor de asas, enquanto se abriram milhares de novas flores e
cantaram milhões de anjos. A mente, que vaga absorta em luminosos pensamentos
compreende como se alguém o tivesse dito: Cristo Ressuscitou! e não pensa outra
coisa. Todos choravam mansamente, tanto lhes havia comovido aquele doce canto.
O canto era cada vez mais forte, recordando o Calvário de Cristo: o
Sagrado Templo do Universo ressoava de hinos sagrados. De repente todos se
calaram de emoção: pressentia-se a presença de Cristo! Os pássaros haviam
deixado de cantar e os anjos haviam parado de falar. Quieto também estava o
bosque, até a pouco tão loquaz. Toda a natureza estava imóvel sentindo a festa
de seu Senhor. Os anjos, na espera de Cristo, continham até a respiração. Foi
então que do alto chegaram sons alegres coros, cantados somente por
maravilhosos querubins. Estes tinham asinhas resplandecentes de ouro, todas
tensas como as pétalas de uma flor, enquanto suas cabeças se inclinavam
delicadamente. Ligeiras e suaves estas cabecinhas rodeavam a Cristo, e seu
canto era sobre-humanamente doce. Eram miríades, e suas asas se moviam sem
tréguas.
O esplendor do céu, entretanto as tornava ainda mais formosas: e as
auréolas irisadas que os rodeava entrelaçavam-se entre si produzindo um efeito
dos mais extraordinários; aumentavam as vibrações da música encantadora,
aumentavam os acordes do jogo de luzes, aumentava a alegria das almas e uma
onda de emoção invadia a intimidade da alma. Não podem ser encontradas as
palavras exactas para descrever a imensidão daquela alegria e daquela
felicidade. Esta alegria, e esta felicidade, não são como as conhecidas na
terra: são eflúvios que fazem vibrar todo o ser, como se nos transportasse a um
êxtase sublime. A alma, em tal momento é como se quisesse chorar e também
cantar.
Reluzia Cristo, infinitas vezes mais que o esplendor do sol e ante
a Luz que Dele emanava, tudo o mais se escurecia. Ao Seu redor, os querubins
cantavam docemente: A
natureza se adorna do Senhor! E vinham em direcção Dele, com as mãozinhas
debaixo das asas, e desapareciam em Sua luz. Na amplidão do etéreo caminho
estavam esparzidas flores em profusão, e rosas, em memória da ressurreição. Em
torno de Cristo havia uma auréola que igualava em esplendor à soma da auréola
de todas as criaturas. Seus olhos reluziam de amor: a cor de suas pupilas era a
cor do Céu e suas vestes estavam entrelaçadas de claros raios.
O Espírito do Altíssimo brilhava em Seu rosto. Ele Se alegrou com
todos os justos pela vitória sobre o inimigo e todas as almas tiverem um só
alento junto de Cristo. E em seus rostos floresceram sorrisos ao ouvir a
saudação: Glória
ao Senhor! O som da música celeste, perfeita em seus acordes e ressonâncias,
mesclava-se com a perfeita harmonia, tão diferente da música terrena que é
impossível descrevê-la!
Há, nas notas, completamente desconhecidas aos ouvidos dos mortais,
como que doçura e santidade. Esta música das esferas celestiais desperta nas
almas dos ouvintes uma alegria tão luminosa e pura, que tudo o mais se esquece
e se apaga; um único desejo toma todas as almas: render honra e glória
continuamente ao Senhor! Cantaram logo em resposta, e apenas se calava um coro,
ouro começava o mesmo canto.
Então se levantou a Virgem Maria e se pôs aos pés do Senhor, porém
distante, resplandecendo no fulgor de seus raios, enquanto na parte oposta se
ergueu o Arcanjo São Gabriel, que levantando uma fugida Cruz anunciou: Cristo Ressuscitou! E
milhões de almas responderam: Em
verdade, Ele ressuscitou!
Junto de mim passou um santo, e sua face me pareceu com a de alguém
que eu não via há muito tempo. Tremendo de emoção, eu escutava o grito sempre
crescente da multidão: Cristo
ressuscitou! Cristo ressuscitou! E ao redor Dele havia muitíssimos cristãos, de
todas as partes e seu amor igualmente animava a todos. Os querubins voavam por
todos os lados, alegres, cantando louvores pela vida eterna. Seu canto punha a
alma em êxtase, e os justos sabem bem que mil anos de feliz Paraíso passam como
um só dia. Suave se ouvia um som de lira e o divino mundo estava impregnado
daquela melodia encantadora. A cada passo aumentava a alegria e cada vez mais
alto ressoava a oração. E eu vi como o irmão se encontrava com a irmã. Havia chegado
a hora da data festiva e as almas voavam uma para a outra.
Não era uma reunião como as que estamos acostumados a ver aqui em
nosso mísero mundo terreno. Ali as almas estão privadas de seus corpos, não têm
necessidade de expressões exteriores para manifestar seu afecto, pelo que
interagem apenas com um movimento da parte sensitiva da alma. E como todo o
Paraíso está como que impregnado de amor, e tanto o ar do espaço está saturado
dele, que por eles se transmite o amor, por meio de vibrações. Não há necessidade
de falar: cada alma é transparente ao pensamento dos outros e nada se pode
esconder.
Assim, quando se encontram os entes queridos que se amam, sua
auréola cintilante irradia muitas vezes mais, pela alegria do encontro. Porém,
ao mesmo tempo nunca se esquecem, por primeiro de tudo, de amar ao Senhor. E
assim eu vi encontrar-se homens e mulheres muito diferentes, que haviam vivido
em épocas distintas, porém todos se sentiam unidos ao Senhor. Ao redor, todo o
firmamento despendia raios de luz vivíssima, como uma formidável expressão do
Amor Universal.
Que outra alegria pode comparar-se a esta ternura infinita? Deus
concedeu aqui o dom do Amor, e aqui não se fala mais que de amor, porém um amor
santo, enlevado e não terreno. Aqui são desconhecidos os sofrimentos do amor
terreno.
Depois que duas almas se haviam encontrado, entoando um hino, elas
voavam ar afora em um êxtase amoroso. E eu disse a meu companheiro: Sem o amor, o Paraíso não
seria perfeito! Pelo eu ele me disse: Aqueles
que tenham amado em vida permanecem unidos no amor também depois da morte!
Tu me havias prometido – disse eu ao meu companheiro – me mostrar o
dia de festa de meus pais. Porém,
como, não os viste? Não, disse eu surpreendida! E ele falou: talvez não os
tenhas reconhecido, mas entrementes, passaste precisamente junto deles. Nos
dias de festa, quando os justos vêem a este planeta, é concedido a todos os
parentes unir-se, gozando juntos a alegria do encontro. Eu te havia prometido
uma coisa e a mantenho! Olha, estão aqui! Então
eu os vi e verdadeiramente e reconheci a meus falecidos pais: e experimentei um
infinito sentimento de amor, de ternura e de emoção. Porém eles desapareceram
em seguida!
Olhando ao redor vi que todos tinham o mesmo aspecto inteligente e
feliz, assim que ninguém necessitava de conselhos e ajudas, porque cada
espírito já havia entendido tudo aquilo que Deus concede compreender as suas
criaturas. E é tal que, se o Senhor oferecesse a quem tenha sido na terra um
pobre mendigo, o voltar a vida terrena como um imperador, ou rei deste mundo,
ele choraria suas mais cálidas e sinceras lágrimas, rogando ao Senhor que não o
privasse nunca das alegrias celestiais. Ó, que doce é a vida no Paraíso!
…