l MILAGRE DE PÁSCOA NO SANTO SEPÚLCRO l

 Este espantoso artigo foi editado por Niels Christian Hvidt no ano passado, e foi-me enviado pelo João Inácio Wetternick

Niels Christian Hvidt – Teólogo

Accademia di Danimarca –

Via Omero 18 - I-00197 Roma

email: nc@hvidt.com

"No Sábado Santo os fiéis se reúnem numa disputada aglomeração na Igreja do Santo Sepulcro. Porque neste dia, o fogo desce do céu e acende as lamparinas da Igreja", lemos isto num dos muitos itinerários de peregrinação da Páscoa na Terra Santa do século XII.

"O milagre do Fogo Sagrado" é conhecido pelos cristãos da comunidade ortodoxa como "o maior de todos os milagres cristãos". Acontece todo ano, na mesma hora, do mesmo modo e no mesmo lugar. Não se conhece nenhum outro milagre que ocorra tão regularmente e por tempo tão prolongado.

Os primeiros documentos conhecidos que se referem a este milagre remontam ao século VIII d.C.. O milagre acontece na Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, que é para milhões de crentes, o lugar mais sagrado da terra.

Podemos seguir os testemunhos do milagre através dos séculos nos numerosos itinerários para a Terra Santa. O abade russo Daniel apresenta, no seu itinerário escrito em 1167, de maneira minuciosa, "O Milagre da Santa Luz" e as cerimónias que o cercam. Ele lembra como o Patriarca entra na Capela do Santo Sepulcro (a Anástasis) com duas velas. O Patriarca se ajoelha diante da pedra sobre a qual foi recostado Cristo depois da sua morte e diz certas orações, depois das quais o milagre acontece. Uma Luz sai do coração da pedra, uma luz azul, indefinível, que depois de certo tempo acende as lamparinas de azeite fechadas e as duas velas do Patriarca. Esta luz é "O Fogo Sagrado" e se difunde por todas as pessoas que estão presentes na Igreja.

A cerimónia que cerca o "Milagre do Fogo Sagrado" poderia ser a mais antiga cerimónia ininterrupta da cristandade em todo o mundo. A partir do século IV d.C. sem interrupção até os nossos dias numerosos documentos mencionam o admirável prodígio. Deduz-se pelos documentos que o milagre tem acontecido no mesmo lugar, na mesma festividade e na mesma marca litúrgica ao longo destes séculos.

Para investigar sobre este tema, viajei a Jerusalém para assistir a cerimónia, e posso atestar que isto não só aconteceu na igreja primitiva ao longo da Idade Média, mas aconteceu também no sábado dia 29 de Abril de 2000.

O Patriarca Ortodoxo Grego de Jerusalém, Diodoro I, é quem todos os anos entra na tumba para rezar e é quem recebe a Santa Chama. Ele é o Patriarca de Jerusalém desde 1982, pelo que se torna uma testemunha-chave do milagre. Antes da cerimónia o Patriarca me recebeu numa audiência privada e, graças a sua intervenção, fui admitido nos balcões da cúpula da Basílica do Santo Sepulcro de onde tive uma visão privilegiada do grupo de pessoas que se reuniu em volta da tumba com antecedência para o "Grande Milagre do Fogo Sagrado".

O que é que realmente acontece no Santo Sepulcro no Sábado da Páscoa? Por quê tem tanta importância na tradição ortodoxa? Por quê parece que não se tenha escutado nada sobre o milagre nos países protestantes e católicos?

O milagre acontece a cada ano no Sábado da Páscoa ortodoxa e é celebrado conjuntamente por todas as comunidades ortodoxas. Há muitas denominações de cristãos ortodoxos: Sírios (de Antioquia), Armênios, Russos e Gregos, e também Coptas. Na Igreja do Santo Sepulcro há sete diferentes denominações cristãs, e todas, excepto os católicos, participam da cerimónia.

Desde que aconteceu o cisma entre ocidente e oriente no ano de 1054 os "Dois pulmões do corpo de Cristo", como chama o Papa João Paulo II, os Ortodoxos e Católicos vivem existências separadas, mas nos dois primeiros séculos posteriores ao cisma não foi assim no Santo Sepulcro. O poder público da cerimónia era tão grande que apesar do cisma católicos e ortodoxos eles se reuniam para celebrá-la juntos. Logo depois do ano de 1246 quando os católicos deixaram Jerusalém com a frustrada Cruzada, o Milagre do Fogo Sagrado se transformou numa cerimónia privativa dos ortodoxos; os ortodoxos permaneceram em Jerusalém mesmo depois da ocupação palestina por parte dos turcos.

O Metropolita Timóteo, do Patriarcado Ortodoxo de Jerusalém, representante do Patriarca na celebração ecuménica de abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro em Roma, disse que o poder ecuménico e unificador do Fogo Sagrado é excepcional. "Até o século XIII era a Igreja inteira que celebrava a cerimónia do Fogo Sagrado", disse-nos o Patriarca.

Mesmo depois que os católicos deixaram Jerusalém, ela continuou como uma cerimónia unificante para aqueles que ficamos aqui, isto é para todas as ramificações do mundo ortodoxo. Torna-se importante olhar a Chama que se difunde a partir de uma perspectiva simbólica: pode-se ver a Chama e o modo em que se difunde como sangue bombeado pelo coração para os diferentes membros do corpo. A Chama vem milagrosamente de Cristo para o Patriarca Grego Ortodoxo dentro da tumba. Ele a dá aos Metropolitas Arménio e Copta, os quais, por sua vez, a entregam às demais comunidades e daí se difunde para toda a comunidade dos fiéis. Terminada a cerimónia os fiéis de todo Israel e dos territórios Palestinos levam-na às casas dos seus familiares. Alguns peregrinos que vêm de longe fazem provisão de boa quantidade de azeite e de lamparinas especiais com as quais levam a Chama para os seus países."

"A companhia aérea Olympic Airways ajuda a distribuir a Chama a numerosos países onde há cristãos ortodoxos, especialmente em Alexandria, no Egipto, e na Rússia, mas também na Geórgia, Bulgária e Estados Unidos. Todos os anos escrevemos cartas de recomendação ao Ministro Dos Assuntos Religiosos de Israel que por sua vez ajuda aos peregrinos a levar lamparinas com o Fogo Sagrado atravessando os postos de Alfândega e levando-o aos respectivos aviões. Assim tão importante é a difusão da Chama para nós. É Santa e mantém para nós a lembrança de como o Espírito Santo está presente em todas as partes do Corpo de Cristo, do mesmo jeito que o sangue flui por todos os membros do corpo humano."

A partir das 11 horas da manhã, aproximadamente, até as 13 horas, os cristãos árabes cantam com fortes vozes canções tradicionais. Estas canções remontam à época da ocupação turca de Jerusalém, no século XIII, quando os cristãos só podiam cantar suas canções nas Igrejas. "Nós somos os Cristãos, e o fomos durante séculos e o seremos para sempre. Amen!" cantam com voz na garganta e acompanhados pelo som de tambores. Os tocadores de tambor sentam-se nos ombros dos outros que dançam freneticamente em redor da Capela do Sepulcro.

Às 13 horas as canções se desvanecem e faz-se silêncio, um silêncio tenso e carregado de ansiedade pela espera da grande manifestação do Poder de Deus que todos estão prestes a presenciar. Às 13 horas acontece outro fato: uma delegação das autoridades locais abre passagem acotovelando-se no meio da multidão. Embora estes oficiais não sejam cristãos, eles são parte das cerimónias. Nos tempos da ocupação turca da Palestina, eram os turcos muçulmanos; hoje em dia são os israelenses.

Durante séculos a presença destes oficiais fez parte integrante da cerimónia. Sua função é a de representar os Romanos dos tempos de Jesus. O Evangelho fala dos Romanos que foram selar a tumba de Jesus para que os seus discípulos não pudessem roubar o Corpo de Jesus e proclamarem que havia ressuscitado. Do mesmo modo as autoridades israelenses vêm neste Sábado da Páscoa e selam a tumba com cera. Antes de selar a porta é costume que entrem na tumba para verificar se não há fogo escondido com o qual se pudesse produzir alguma fraude. Assim, como os romanos estavam presentes para garantir que não haveria manipulação depois da morte de Jesus, do mesmo modo, as autoridades israelenses locais devem garantir que, no nosso tempo, não haja truques.

Uma vez que a tumba tenha sido inspeccionada e selada, toda a igreja canta o Kyrie Eleison. Às 13:45 horas aparece o Patriarca. Imediatamente depois de uma longa procissão que arrodeia a tumba três vezes, retiram os ornamentos reais e litúrgicos do Patriarca e ele fica vestindo sua alva branca como sinal de humildade diante do grande prodígio de Deus do qual está para ser testemunha-chave.

Todas as lamparinas de azeite foram apagadas na noite anterior, e agora apagam as luzes artificiais restantes de modo que quase todo o templo se encontra envolvido na escuridão. O Patriarca entra com dois círios na Capela do Santo Sepulcro, primeiro na pequena antecâmara e logo em seguida na tumba.

Não é possível ver o que acontece dentro da tumba, de modo que eu perguntei ao Patriarca de Jerusalém, Diodoro I:

"Beatitude, o que é que acontece quando Vossa Eminência entra no Santo Sepulcro?"

"Entro na tumba e me ajoelho com santa reverência diante do lugar onde Cristo foi deitado logo após a Sua morte e de onde Ele ressuscitou da morte. Já rezar no Santo Sepulcro é sempre para mim um momento muito sagrado num lugar sagrado. É aqui de onde ressuscitou novamente na glória e foi daqui que Ele difundiu Sua Luz pelo mundo.

"Creio que não é por acaso que o Fogo Sagrado surja precisamente deste lugar. Em Mt 28, 3, lê-se que quando Cristo ressuscitou da morte, veio um anjo, rodeado de uma poderosa luz. Creio que a impressionante luz que envolveu o anjo na Ressurreição do Senhor é a mesma luz que aparece milagrosamente em cada Sábado da Páscoa. Cristo quer nos lembrar que a Sua Ressurreição é uma realidade e não simplesmente um mito; Ele veio realmente ao mundo para oferecer o sacrifício necessário por meio da Sua morte e Ressurreição, de modo que pudéssemos nos reunir com nosso Criador."

"Procuro o caminho na escuridão para o interior da câmara na qual caio de joelhos. Rezo aqui certas orações que nos foram transmitidas há séculos e, tendo rezado, espero. Às vezes devo esperar alguns minutos, mas habitualmente o milagre acontece imediatamente depois de ter rezado as orações."

"Do coração da própria pedra sobre a qual Jesus foi depositado se derrama uma luz indefinível. Geralmente tem uma tonalidade azulada mas a cor pode mudar e tomar diferentes matizes. Não se pode descrever em termos humanos. Às vezes cobre exatamente a pedra, enquanto que outras vezes ilumina todo o Sepulcro, de maneira que o povo reunido de pé do lado de fora da tumba e que olha para dentro avista o Sepulcro cheio de luz. A luz não queima; durante os 16 anos em que sou Patriarca de Jerusalém e recebi o Fogo Sagrado, nunca queimei a minha barba. A luz é de consistência diferente da do fogo normal que arde numa lamparina de azeite.

"Num certo ponto a luz se eleva e forma como que uma coluna em que o fogo é de natureza diferente, e na qual consigo acender meus círios. Assim que recebo a chama nos meus círios, saio e dou fogo primeiro ao Patriarca Armênio e em seguida ao Copta. Posteriormente dou fogo a todas as pessoas presentes no templo."

Enquanto o Patriarca está dentro da Capela ajoelhado diante da pedra, há escuridão do lado de fora mas está longe de haver silêncio. Ouve-se um murmúrio bastante forte e a atmosfera é muito tensa. Quando o Patriarca sai com os dois círios acesos e que resplandecem brilhando na escuridão, um estrépito de júbilo ressoa no templo, unicamente comparável a um gol num torneio de futebol.

O milagre não se resume ao que realmente acontece dentro da pequena tumba, onde o Patriarca reza. O que pode ser ainda mais significativo, é que se diz que a luz azul aparece e age fora da tumba. Todos os anos os fiéis afirmam que esta luz milagrosa acende espontaneamente velas que eles sustentam nas suas mãos.

Estas luzes frequentemente acendem, lamparinas de azeite fechadas por si mesmas, diante dos olhos dos peregrinos. Vê-se a chama azul mover-se em diferentes lugares no templo. Numerosos testemunhos assinados por peregrinos que tiveram as suas velas acesas espontaneamente atestam a veracidade deste acontecimento. A pessoa que experimenta o milagre de perto, ou tem uma vela sua acesa ou vê a luz azul, usualmente sai de Jerusalém transformada.

Poderíamos colocar a pergunta, por quê o Milagre do Fogo Sagrado dificilmente é conhecido na Europa ocidental. Nos países protestantes pode ser explicado de certa forma pelo fato de que não há tradição de milagres: as pessoas realmente não sabem em que compartimento deve situar os milagres, e eles não ocupam muito espaço nos jornais. Mas, na tradição católica há um grande interesse por milagres.

Então, por quê não é mais conhecido? Uma única explicação o define: a política eclesiástica. Somente as igrejas ortodoxas participam da cerimónia que emolduram o milagre. Acontece somente na data da Páscoa ortodoxa e sem a presença de nenhuma autoridade católica. Para alguns ortodoxos esta evidência prova a afirmação de que a igreja ortodoxa é a única legítima Igreja de Cristo no mundo, e esta afirmação obviamente pode causar certo mal-estar em círculos católicos.

 Como em muitos outros milagres há pessoas que crêem que se trata de uma fraude e que não seria nada mais do que uma obra prima da propaganda ortodoxa. Eles acreditam que o Patriarca tem um isqueiro dentro da tumba. Estas críticas, contudo, se deparam com uma série de problemas. Fósforos e outros meios de acender o fogo são descobertas recentes. Poucos séculos atrás acender um fogo era uma tarefa que requeria muito mais tempo do que o Patriarca dispõe quando está dentro da tumba.

Os argumentos principais contra a fraude não são, contudo, os dos Patriarcas que são mutáveis. O maior desafio que as críticas enfrentam são os milhares de testemunhos independentes de peregrinos cujas velas se acenderam espontaneamente diante dos seus olhos sem explicação possível.

De acordo com nossas investigações, nunca foi possível filmar nenhuma das velas ou lamparinas de azeite enquanto se acendiam sozinhas. Contudo, tenho um vídeo filmado por um jovem engenheiro de Belém, Suhail Thalgich. O senhor Thalgich esteve presente na cerimónia do Fogo Sagrado desde a sua infância. Em 1996 pediram-lhe que filmasse a cerimónia do balcão da cúpula do templo. Junto dele, no balcão, estavam uma freira e outros quatro fiéis. A freira estava à direita do Sr. Thalgich.

No vídeo pode-se ver como ele aproxima a multidão com o ‘zoom’ da filmadora. Num dado momento todas as luzes se apagam – é o momento em que o Patriarca entra na tumba e pega o Fogo Sagrado. Enquanto ele ainda se encontrava no interior da tumba, escuta-se de repente um grito de surpresa e de admiração proveniente da freira que estava de pé junto do Sr. Thalgich. A câmara começa a balançar enquanto se escutam vozes excitadas das outras pessoas presentes no balcão. A câmara gira para a direita e é possível ver-se o motivo da emoção. Um círio grande, sustentado pela freira russa, acende-se diante das pessoas presentes, antes que o Patriarca saísse da tumba. Com as mãos tremendo ela sustenta o círio enquanto faz repetidamente o sinal da cruz em ato de reverência pelo prodígio testemunhado por ela.

O milagre, como a maior parte dos milagres, está rodeado de factores inexplicáveis. Como disse o Arcebispo Alexios, de Tibenas, quando eu o visitei em Jerusalém. "O milagre nunca foi filmado e, talvez nunca o seja. Os milagres não podem ser provados. Exige-se fé para que um milagre dê fruto na vida de uma pessoa e, sem este ato de fé não há milagre no sentido estrito. O verdadeiro milagre na tradição Cristã tem um só propósito: estender a Graça de Deus sobre a criação, e Deus não pode estender Sua Graça sem que esta seja intermediada pela fé por parte das Suas criaturas."

http://pagina.de/amen.etm

MilagrePascalnoSantoSepulcro.htm

 C