Deixem-me falar-vos de Jesus Cristo - por João César das Neves

In João César das Neves, Deixem-me falar-vos do impossível, (Principia, 2008)

 

 

Eminências[1]

Senhores padres

Irmãs e irmãos

 

Deixem-me falar-vos de Jesus Cristo !

 

Eu sei que este não é o momento. Neste Congresso eu devia analisar convosco a dimensão eclesial e sacramental da evangelização. Mas deixem-me falar-vos de Jesus Cristo.

 

Eu sei que não sou a pessoa. Há tanta gente que O conhece muito melhor do que eu. E Ele mesmo, ouve tudo o que nós dizemos. Mas deixem-me, apesar de tudo, falar-vos de Jesus Cristo.

 

1 - A vida de Cristo

 

Porque Ele é o único assunto. Ele é o único tema que existe. De que podemos falar, senão d’Ele? Depois dos profetas nos anunciarem que Ele viria, de que podemos falar, senão d’Ele? Depois dos Apóstolos nos terem dito que Ele já tinha vindo, de que podemos falar? Quando os sucessores dos Apóstolos nos dizem, aqui e agora, que Ele veio, de que podemos falar senão d’Ele? Quando os santos no-Lo mostram presente, aqui e agora, de que podemos falar senão d’Ele? «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna!» (Jo 6, 68).

 

Cristo é o único tema de que podemos falar. Charles Péguy, que rezou aqui, nesta catedral de Notre Dame de Paris, disse-nos que:

 

Os passos das legiões tinham marchado por Ele.

As velas dos barcos por ele se tinham inchado.

Por Ele os sóis de Outono tinham luzido.

As velas dos barcos por Ele se tinham dobrado.

(...)

Os passos de Dario tinham marchado por Ele.

Era Ele que se esperava no fim do fundo da Pérsia.

Era Ele que se esperava numa alma dispersa.

Ele era o Senhor de ontem e de hoje.

(...)

As regras de Aristóteles tinham marchado por ele.

Do cavalo de Alexandre às regras escolásticas.

E por Ele o ascetismo e a regra tinham luzido.

Das regras de Epicuro às regras monásticas

[2]                                                                                            

 

Todo o mundo nos fala de Cristo. Todo o mundo marcha por Cristo. Tudo existe por Cristo. Este deve ser o primeiro elemento da evangelização. Ele mesmo o disse. «Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra.Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.» (Mt 28, 18). A pré-condição da evangelização é que todo o poder foi recebido por Cristo. Pela sua ressurreição gloriosa, o mundo pertence a Cristo. Então a evangelização pode começar.

 

Se todo o poder é de Cristo, isso quer dizer que todas as coisas estão sob o seu poder. Isso quer dizer que cada momento da nossa vida está sob o seu poder. Nós sabemo-lo muito bem. Mesmo as coisas que parecem não estar sob o seu poder, elas o estão misteriosamente. O Catecismo da Igreja Católica explica-o muito bem.

 

«É unânime, a este respeito, o testemunho da Escritura: a solicitude da divina Providência é concreta e imediata, cuida de tudo, desde os mais insignificantes pormenores até aos grandes acontecimentos do mundo e da história. Os livros santos afirmam, com veemência, a soberania absoluta de Deus no decurso dos acontecimentos:“Tudo quanto Lhe aprouve, o nosso Deus o fez, no céu e na terra” (Sl 115, 3); e de Cristo se diz: “que abre e ninguém fecha, e fecha e ninguém abre” (Ap 3, 7); “há muitos projectos no coração do homem, mas é a vontade do Senhor que prevalece” (Pr 19, 21) (...) O testemunho dos santos não cessa de confirmar esta verdade: Assim, Santa Catarina de Sena diz aos “que se escandalizam e se revoltam contra o que lhes acontece”: “Tudo procede do amor, tudo está ordenado para a salvação do homem, e não com nenhum outro fim” [3]. E S. Tomás Moro, pouco antes do seu martírio, consola a filha com estas palavras: “Nada pode acontecer-me que Deus não queira. E tudo o que Ele quer, por muito mau que nos pareça, é, na verdade, muito bom”[4]»[5].

 

O Catecismo é claro. Nós conhecemos muito bem esta doutrina. Mas acreditamos verdadeiramente nela todos os dias? Será que acreditamos que Jesus Cristo é o Senhor dos mercados e dos engarrafamentos? Sabemos que Cristo é o «Senhor dos exércitos» (Sl 84 (83), 2; Is 1, 9), o «Senhor dos séculos» (Tb 13, 15), sabemos que Ele é o «Senhor dos nossos pais» (Jdt 7, 28). Mas será que acreditamos que Ele é também o Senhor dos satélites e dos sindicatos? Dos jogos de computador e dos cinemas? Será que sabemos que Ele é o Senhor da televisão e dos autocarros, o Senhor das fábricas e dos telemóveis? Ele é o Senhor de ontem e de hoje.

 

É Ele o Verbo de Deus, que nos fala a cada momento da nossa vida. É Ele o Verbo de Deus , que está presente em cada presença que encontramos no nosso quotidiano. De que podemos falar, senão d’Ele? É isso a evangelização: falar de Jesus Cristo nos mercados, nos autocarros, nos sindicatos, nos cinemas.

 

O mundo, todo o mundo, é a manifestação de Cristo. O mundo, todo o mundo, quer o saiba ou não, é a presença de Cristo. Por Ele marcharam as legiões, mesmo se elas não O conheciam. Por Ele marcham as cotações da Bolsa e as decisões dos ministros, mesmo se elas não o sabem. Por Ele andam os passos dos operários e os preços do petróleo. Ele é o Senhor de ontem e de hoje.

 

«Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam Deus, daqueles que são chamados de acordo o seu desígnio» (Rm 8, 28). É por isso que, no meio de todas as coisas da nossa vida, de quem podemos falar, senão d’Ele?

 

A vida do mundo é o primeiro sacramento da evangelização. O mundo e tudo na nossa vida nos fala de Cristo. Cristo evangeliza através do mundo. Cristo evangeliza-nos através do mundo. Os acontecimentos da história são o primeiro sacramento da evangelização. O mundo, a nossa vida, a história não nos falam senão de Cristo. A vida do mundo é o primeiro sacramento da evangelização. O primeiro sacramento da evangelização é o Baptismo.

 

2 - A felicidade de Cristo

 

Mas que significa falar de Jesus Cristo? Qual é a significação da evangelização?

 

Falar de Jesus Cristo é falar de felicidade, é falar de alegria, é falar de paz. É esse o sinal de Cristo. A verdadeira felicidade é o sinal, é o sacramento da presença de Cristo no mundo. A felicidade é a presença de Cristo em nós.

 

S. Agostinho disse : «Quando vos procuro, ó meu Deus, procuro uma vida feliz. Que eu vos procure, para que a minha alma viva. Pois o meu corpo vive da minha alma e a minha alma vive de vós (...) Longe de mim, Senhor, longe do coração do vosso servo, que se confessa a vós, longe de mim considerar-me feliz, com qualquer alegria com que me alegre. Há uma alegria que não é concedida aos ímpios, mas àqueles que desinteressadamente vos servem, cuja alegria sois vós mesmo. E a vida feliz consiste em sentir alegria junto de vós, vinda de vós, graças a vós: esta é a vida feliz e não há outra. Aqueles, porém, que julgam que há uma outra vida feliz, perseguem outra alegria que não a verdadeira. Contudo, a sua vontade não se afasta de uma certa imagem de alegria.»[6]

 

S. Agostinho diz-nos que a felicidade é alegrar-se junto de Cristo, através de Cristo, graças a Cristo. É isso a felicidade. Não se pode falar de Cristo, não se pode falar de evangelização sem levar em si a felicidade e a alegria de Cristo. «Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor.Manifestei-vos estas coisas, para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa.» (Jo 15, 10-11). A alegria é o sinal do apóstolo.

 

Deus, quando nos quis mandar os Mandamentos, enviou-os por portador. Mas quando veio pessoalmente, trouxe-nos as Bem-aventuranças. A felicidade, a bem-aventurança, a alegria, a paz são as novidades da Nova Aliança. Elas devem ser também as novidades da Nova Evangelização. Falar de Jesus Cristo é falar de felicidade. É Cristo quem nos fará ver a felicidade[7].

 

É só por causa disso que «Ai de mim, se eu não evangelizar!» (1Co 9, 16). Não é um castigo. É apenas um esquecimento. Se não anuncio o Evangelho, se me esqueço de falar de Jesus Cristo, a felicidade não está em mim. Se eu não falo de Jesus Cristo, a felicidade não está em mim. Se não falo de Jesus Cristo sou infeliz. Ai de mim se não anuncio Jesus Cristo.

 

Quando esqueço as Bem-aventuranças sou infeliz. A felicidade, a verdadeira felicidade, a única felicidade, é falar de Jesus Cristo, é falar com Jesus Cristo. É alegrar-se falando de Cristo, através de Cristo, graças a Cristo. Falar de Jesus Cristo nos mercados e nos engarrafamentos. Falar de Cristo pelos satélites e pelos sindicatos. Falar de Cristo é ser feliz. Falar de Cristo é ser verdadeiramente feliz. É ser feliz nos passos dos operários e nas fábricas, nos cinemas e na Bolsa. Falar de Cristo é ser feliz no meio das decisões dos ministros e dos jogos de computador.

 

Mas a paz vem de Cristo, não do mundo. Sabemos muito bem que a paz que as fábricas nos dão, a paz dos cinemas, dos computadores, dos ministros não é a verdadeira paz. Sabemos que não é na televisão e nos autocarros que podemos encontrar a verdadeira alegria. Há aí uma imagem da verdadeira alegria, como diz S. Agostinho. Mas aqueles que julgam que há outra fora de Cristo, agarram-se a uma alegria que não é a verdadeira. Como diz S. Agostinho.

 

Os computadores e os sindicatos, os mercados e os engarrafamentos não nos podem, por si mesmos, dar a alegria. Os satélites e as fábricas não nos podem dar senão uma imagem da verdadeira felicidade. Sabemos que a alegria do mundo não é uma verdadeira alegria, a sua paz não é uma verdadeira paz. O mundo e a história não têm a paz, não têm a alegria. Não no-la podem dar. Vistos os sofrimentos da nossa vida, sabemos muito bem que não podemos encontrar a verdadeira felicidade no mundo e na história. Senão por Cristo.

 

Nós, pobres pecadores, nós sabemos muito bem quantas vezes caímos em falsas alegrias. Vemos por todo o lado pessoas que colocaram a sua esperança nas fábricas e nos políticos, nos mercados e nos jogos. E estão perdidos. Encontramos pessoas, quer o saibam ou não, que não encontraram no mundo a felicidade que aí procuravam.

 

A verdadeira felicidade está na presença de Cristo. E o mundo, todo o mundo, quer o saiba ou não, contém a presença de Cristo. Mas esta presença não pode ser revelada senão pela evangelização. É pela evangelização que encontramos o que nos dá a alegria nos mercados e nas ruas, porque é pela evangelização que aí encontramos Cristo. É pela evangelização que o mundo encontra a verdadeira alegria, a verdadeira felicidade, que ele já tem em imagem como diz S. Agostinho, mas que não conhece.

 

Qual é a fonte pela qual Jesus Cristo nos traz a alegria? Onde é que, mais que em qualquer outro lado, podemos encontrar Cristo presente no mundo?

 

Quando o mundo vê Cristo, o que o espanta mais é a misericórdia. «Quem é este que até perdoa os pecados?» (Lc 7, 49). É isto que espanta os fariseus. É isto que atrai os discípulos. Para nós, pobres pecadores, a única fonte de felicidade é a misericórdia. Para nós, que tantas vezes caímos nas falsas alegrias, o único caminho para a paz é a misericórdia. Para nós, esmagados pelos pecados, a única fonte de alegria é a misericórdia.

 

Os nossos pecados condenaram-nos. Cada um de nós sabe muito bem que os nossos pecados nos condenaram. E quando vemos as fábricas e os autocarros, os ministros e os mercados, sabemos muito bem que eles não podem ter paz, por causa dos seus terríveis pecados. Aquilo que precisamos, aquilo que eles precisam é da misericórdia. Só a misericórdia liberta dos pecados. Só a misericórdia redime os pecados. Só a misericórdia abre as portas da paz e da alegria. O anúncio da evangelização deve ser o anúncio da misericórdia. Só assim a evangelização pode anunciar a felicidade, a alegria e a paz.

 

São Tomás de Aquino, que rezou aqui, nesta Catedral de Notre Dame de Paris, ensinou-nos que os efeitos interiores da caridade são três: a alegria, a paz e a misericórdia[8]. A caridade que Cristo nos trouxe, dá-nos a alegria e a paz. Ela no-la dá através da misericórdia, que é também um efeito da caridade. «Os seus muitos pecados lhe foram perdoados porque ela muito amou» (Lc 7, 47).

 

A alegria é o segundo sacramento da evangelização. Para fazer a evangelização devemos ter a alegria dos salvos, devemos ter a paz de Cristo. A alegria de ser perdoado dos pecados é a o segundo sacramento da evangelização. O segundo sacramento da evangelização é a Penitência.

 

3 - O corpo de Cristo

 

O mundo não gosta da evangelização. O mundo não gosta que lhe falemos de Cristo. É verdade que o mundo não conhece Cristo. Mas, mesmo sem o conhecer, o mundo não gosta que lhe falemos d’Ele. O mundo não conhece Cristo porque não ouve a evangelização, não compreende a evangelização. E não a ouve porque não gosta da evangelização.

 

O mundo procura por todo o lado a felicidade, a alegria, a paz. Mas não conhece Cristo. Só Cristo lhe poderia dar o que ele procura. E o mundo não gosta d’Aquele que não conhece. É esta a principal dificuldade da evangelização.

 

Tocamos aqui no mistério central da evangelização. Estamos no drama essencial da evangelização. «A Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam. (...) Veio para o que era seu, e os seus não a receberam.» (Jo 1, 5 e 11). Eis o terrível obstáculo da evangelização.

 

O mundo, que tem em si a presença de Cristo, o mundo que busca a felicidade, a alegria e a paz, que ele só pode ter em Cristo, não gosta da evangelização. Nós só podemos falar de Cristo. Mas o mundo não gosta que lhe falemos de Cristo. Se O tivesse conhecido, o mundo não podia senão gostar d’Ele. Mas o mundo, não conhecendo Cristo, não gosta que lhe falemos de Cristo. O mundo não gosta da evangelização.

 

Não é do Verbo de Deus que o mundo não gosta. O mundo, em geral, não tem problemas com o panteísmo, com os misticismos e os espiritualismos. O mundo, nos seus mercados e fábricas, nas decisões dos ministros e nos preços do petróleo, não tem problemas com as superstições esotéricas. Deus, se ficar no Céu e se limitar a ser Deus longínquo, não traz problemas ao mundo, não cria dificuldades aos mercados e aos ministros.

 

Não é também da Cabeça de Cristo que o mundo não gosta. Todos, mesmo os que atacam a fé, tem normalmente respeito pela Cabeça de Cristo, pela pessoa de Jesus. Mesmo os grandes inimigos da Igreja afirmam admirar a vida, a doutrina, a pessoa de Jesus. Lemos nos livros dos ímpios palavras muito belas sobre Jesus, a sua história, as suas parábolas, os seus ensinamentos, o seu sacrifício admirável. Se Ele não é Deus, se Ele não ressuscita, o mundo tem grande admiração por Jesus.

 

O respeito que o mundo diz ter por Jesus supõe que Ele nunca diga que é Deus. Gostam muito dos seus ensinamentos, mas apenas se Ele não disser «Eu e o Pai somos um» (Jo 10, 30). Esta pequena parte dos seus ensinamentos não é tolerável. Mas, desde que Ele não diga que «antes de Abraão ser eu sou» (Jo 8, 58), o mundo é muito respeitoso para com a Cabeça de Cristo.

 

Não é do Verbo de Deus nem da Cabeça de Cristo que o mundo não gosta. Aquilo de que ele não gosta é do Corpo de Cristo. O que o mundo condena é o Corpo que Cristo escolheu para si. O corpo de carne e de sangue que Cristo escolheu para Si, é disso que o mundo não gosta. Se Cristo tivesse ficado no Céu, se o Verbo não tivesse escolhido encarnar num corpo, o mundo respeitá-lO-ia sempre.

 

Mas Ele veio cá abaixo, à lama e à poeira. Ele veio aqui, aos mercados e às fábricas. Se Deus vem aos mercados e às fábricas, se Ele interfere nas decisões dos ministros e dos sindicatos, isso o mundo não gosta mesmo nada. O que mundo não gosta em Deus é que Ele tenha decidido entrar no mercado e na carpintaria. O Verbo de Deus decidiu trabalhar durante uma data de anos numa manufactura, e alguns desses anos em trabalho infantil. É isso que o mundo não gosta: que Ele tenha escolhido um Corpo. O que o mundo não gosta é da Incarnação.

 

O mundo não gosta do corpo que Cristo escolheu para Si em Nazaré. E, sobretudo, o mundo não gosta do corpo que Ele escolhe para Si no Cenáculo. O corpo que Ele escolheu para Si em Nazaré e que se chama Jesus mas, sobretudo, o corpo que Ele escolhe para Si no Cenáculo, e que se chama Igreja. É disso que o mundo não gosta.

 

Lemos nos livros dos ateus palavras muito belas sobre Jesus. Mas lemos aí também as mais terríveis acusações contra a Igreja. O que o mundo não gosta de todo é da comunidade dos discípulos que Cristo escolheu para Si como seu Corpo. Este Corpo que se reúne aqui, nesta catedral, é disso que o mundo não gosta de todo. Mas ao atacar a Igreja, o mundo não sabe que está a atacar Cristo, que ele admira tanto.

 

Joana d’Arc, que desejou tão ardentemente rezar aqui nesta Catedral de Notre Dame de Paris, apresentou-nos este mistério de uma forma radical. No seu processo é dito: «É meu aviso que são tudo um, de Nossa Senhor e da Igreja, e que não se deve fazer dificuldade que seja tudo um.» [9]

 

A Cabeça de Cristo não pode ser separada do Corpo de Cristo. Nosso Senhor e a Igreja são tudo um. São Paulo diz «Vós sois o corpo de Cristo e cada um, pela sua parte, é um membro.» (1Co 12, 27), «é Ele a cabeça do Corpo, que é a Igreja.» (Cl 1, 18). O Cristo total, a Eucaristia na Igreja, é isso que o mundo condena, que ele não gosta. A evangelização, que revela a presença de Jesus Cristo no mundo, não pode mostrar outra coisa senão o Cristo total, a Igreja que guarda a Eucaristia. E é a Eucaristia que empurra a Igreja para a evangelização.

 

O papa João Paulo II, que rezou aqui nesta Catedral de Notre Dame de Paris, explicou-o muito bem na sua encíclica «Ecclesia de Eucharistia» : «Unindo-se a Cristo, o povo da nova aliança não se fecha em si mesmo; pelo contrário, torna-se “sacramento” para a humanidade, sinal e instrumento da salvação realizada por Cristo, luz do mundo e sal da terra (cf. Mt 5, 13-16) para a redenção de todos. A missão da Igreja está em continuidade com a de Cristo: “Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós” (Jo 20, 21). Por isso, a Igreja tira a força espiritual de que necessita para levar a cabo a sua missão da perpetuação do sacrifício da cruz na Eucaristia e da comunhão do corpo e sangue de Cristo. Deste modo, a Eucaristia apresenta-se como fonte e simultaneamente vértice de toda a evangelização, porque o seu fim é a comunhão dos homens com Cristo e, n'Ele, com o Pai e com o Espírito Santo.» [10]

 

A comunidade é o terceiro sacramento da evangelização. O Corpo de Cristo, presente visivelmente no mundo pela Igreja que leva a Eucaristia, é o terceiro sacramento da evangelização. O terceiro sacramento da evangelização é a Eucaristia.

 

4 - O jugo de Cristo

 

Mas de que é que o mundo não gosta na Igreja? O ódio do mundo pela Igreja é o principal obstáculos à evangelização. Mas de onde vem esse obstáculo? Porque é que o mundo não gosta da Igreja?

 

A primeira razão porque o mundo condena a Igreja são os pecados da Igreja. Sobre isso estamos totalmente de acordo com o mundo. A vida da Igreja, quer dizer a evangelização, é um esforço constante para evitar esses pecados, minorar esses pecados, chorar esses pecados, pedir perdão por esses pecados. A santa Igreja Católica é quem mais sofre por causa dos seus próprios pecados. O Catecismo explicou muito bem a origem desse paradoxo:

 

«“Enquanto que Cristo, santo e inocente, sem mancha, não conheceu o pecado, mas veio somente expiar os pecados do povo, a Igreja, que no seu próprio seio encerra pecadores, é simultaneamente santa e chamada a purificar-se, prosseguindo constantemente no seu esforço de penitência e renovação[11]. Todos os membros da Igreja, inclusive os seus ministros, devem reconhecer-se pecadores (cf. 1 Jo 1, 8-10). Em todos eles, o joio do pecado encontra-se ainda misturado com a boa semente do Evangelho até ao fim dos tempos (cf. Mt 13, 24-30). A Igreja reúne, pois, em si, pecadores abrangidos pela salvação de Cristo, mas ainda a caminho da santificação:

 

«A Igreja “é santa, não obstante compreender no seu seio pecadores, porque ela não possui em si outra vida senão a da graça: é vivendo da sua vida que os seus membros se santificam; e é subtraindo-se à sua vida que eles caem em pecado e nas desordens que impedem a irradiação da sua santidade. É por isso que ela sofre e faz penitência por estas faltas, tendo o poder de curar delas os seus filhos, pelo Sangue de Cristo e pelo dom do Espírito Santo[12].”»[13]

 

A segunda razão pela qual o mundo condena a Igreja é que ele não gosta da hierarquia. O mundo tem muitas hierarquias. Hierarquias nacionais, supranacionais, regionais, comunitárias, mundiais. Mas o mundo não gosta da hierarquia da Igreja. Não gosta que se tenha um Papa, mesmo quando gosta do Papa. O mundo não gosta que se tenha cardeais e bispos, cónegos e padres. O mundo não gosta do Vaticano e, sobretudo, não gosta da Cúria Romana.

 

Isto na evangelização não é um detalhe. Tivemos duzentos anos de guerras na Europa para saber se se deve obedecer ou não ao Papa, se se deve ter ou não uma hierarquia. Pode mesmo dizer-se que, em todos os esforços para o ecumenismo e para a unidade dos cristãos, este é o problema central, estando as questões de doutrina resolvidas há muito tempo. E sobre isto devemos dizer que estamos parcialmente de acordo com o mundo. Mesmo na Igreja ouvem-se muitas vezes queixas sobre o clericalismo. Quase sempre de clérigos.

 

A raiz de tudo isto é simples : se há coisas que o mundo odeia mais que todas as outras, é a obediência, a humildade, a mansidão. O mundo não vê relação possível entre a felicidade e a obediência. O mundo não consegue encontrar conexão compreensível entre a alegria e a humildade, entre a paz e a mansidão.

 

«Tomai o meu jugo sobre vós e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e a minha carga é leve» (Mt 11, 29-30). Eis uma frase que, se existir uma que o faça, simboliza o centro da evangelização. Tomar o jugo de Cristo sobre nós! É isso evangelizar. Mas como o podemos fazer, se o mundo não gosta da obediência, mesmo sob um jugo suave e uma carga leve? Se o mundo ignora a humildade e repudia a mansidão? É por causa disto, mais do que qualquer outra coisa, que o mundo não gosta da evangelização.

 

Há uma terceira razão para condenar a Igreja: a injustiça. O mundo utiliza, para julgar a Igreja, critérios que não usa para mais ninguém. Se alguém condenasse um povo por coisas que ele fez há trezentos ou seiscentos anos, seria chauvinista, xenófobo, racista. Mas é muito corrente atacar a acção presente da Igreja invocando a Inquisição e as Cruzadas. A esses pretextos anacrónicos, que para mais ignoram a verdadeira realidade desses séculos passados e usam generalizações deformadas, juntam-se muitos outros. O mundo pensa ter terríveis acusações contra a Igreja, pelas quais pretende tantas vezes justificar as agressões contra a obra social, educativa, cultural e caritativa única da Igreja no nosso tempo, como em todos os séculos. Esta injustiça chegou mesmo a justificar que «no final do segundo milénio, a Igreja tornou-se novamente Igreja de mártires[14], como notou o Papa em 1994. 

 

É por isso que o Corpo de Cristo é, no nosso tempo mais uma vez, condenado ao tribunal. O Corpo de Cristo encontra-se, mais uma vez, flagelado e coroado de espinhos. A mesma coroa de espinhos que S. Luís recebeu e que é venerada nesta Catedral de Notre Dame de Paris encontra-se, uma vez mais, hoje sobre o Corpo de Cristo. Carregam-no, ainda uma vez, com a Cruz e Ele tem de, mais uma vez, percorrer a Via Sacra. É assim que se repetem e que se completam as tribulações de Cristo (cf. Cl 1, 24).

 

Mas isto não uma ocasião de lamento, de rancor, de sofrimento. É uma causa de alegria, de paz, de felicidade. «Agora, alegro-me nos sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja.» (Cl 1, 24).

 

Esta alegria é uma parte essencial da evangelização, porque não se pode fazer a evangelização senão na Cruz. Não se pode encontrar a verdadeira alegria e a verdadeira paz senão na Cruz. «Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque grande será a vossa recompensa no Céu; pois também assim perseguiram os profetas que vos precederam» (Mt 5, 11-12). «Quanto a mim, porém, de nada me quero gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.» (Gl 6, 14)

 

A Cruz é o quarto sacramento da evangelização. A Cruz, que é o cume sublime da obediência, da humildade e da mansidão, é o quarto sacramento da evangelização. Neste mundo que não ama a Igreja, que não suporta a obediência, a Cruz é o sinal mais visível da evangelização. A Cruz é o quarto sacramento da evangelização. A glória da Cruz palpável no esplendor da Ordem. A glória da Cruz visível no brilho do Matrimónio.

 

5 - A vida da evangelização

 

Como fazer a evangelização ? Que devemos dizer a este mundo que não gosta da evangelização? Quais são os meios que devemos utilizar?

 

«Deixem-me falar-vos de Jesus Cristo!» É isto que devemos dizer ao mundo. «Deixem-me falar-vos de Jesus Cristo!» Não há outro assunto de evangelização, não há outra coisa a dizer. «Por favor, deixem-nos falar-vos de Jesus Cristo. Não temos mais nada a dizer-vos. De que vos podemos falar, senão d’Ele

 

O resto, é uma questão de terrenos. As únicas parábolas que foram explicadas nos Evangelhos ocupam-se precisamente dos terrenos da evangelização. «Um semeador saiu para semear...» mas só «aquele que recebeu a semente em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende: esse dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta.» (Mt 13, 4 e 23). «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem; o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do Reino; o joio são os filhos do maligno; o inimigo que a semeou é o diabo; a ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os anjos.» (Mt 13, 37-39). Eis a escatologia da evangelização. Mas eis também a metodologia da evangelização.

 

O mundo é o terreno, o único terreno de evangelização. As nossas ruas, os nossos sindicatos e cinemas, eis os terrenos de evangelização. São os problemas do quotidiano que ocupam a evangelização. Os dramas do mundo contemporâneo são os terrenos da evangelização.

 

A vida é o primeiro sacramento da evangelização. E hoje, é a defesa da vida humana, desde a sua concepção até à morte natural, que constitui um dos temas capitais da evangelização. O Papa João Paulo II apresentou-o de uma forma cristalina na sua encíclica «Evangelium Vitae».

 

«As raízes da contradição que se verifica entre a solene afirmação dos direitos do homem e a sua trágica negação na prática, residem numa concepção da liberdade que exalta o indivíduo de modo absoluto e não o predispõe para a solidariedade, o pleno acolhimento e serviço do outro. Se é certo que, por vezes, a supressão da vida nascente ou terminal aparece também matizada com um sentido equivocado de altruísmo e de compaixão humana, não se pode negar que tal cultura de morte, no seu todo, manifesta uma concepção da liberdade totalmente individualista que acaba por ser a liberdade dos “mais fortes” contra os débeis, destinados a sucumbir[15]

 

Devemos dizer, com o Papa, que a evangelização tem hoje o dever solene de confrontar a nossa «cultura de morte».

A alegria é o segundo sacramento da evangelização. No mundo de hoje a defesa da alegria está directamente ligada à defesa da paz e à defesa da família. A família vivendo na paz é a condição necessária à alegria da humanidade. O Papa confiou essas graves intenções ao Rosário da Virgem Maria: «À eficácia desta oração, confio de bom grado hoje – como acenei ao princípio – a causa da paz no mundo e a causa da família (...) Oração pela paz, o Rosário foi desde sempre também oração da família e pela família.»[16] A guerra e os ataques à família, que estão estreitamente ligados, representam os mais graves atentados actuais contra a alegria. A evangelização deve confrontá-los.

 

A comunidade é o terceiro sacramento da evangelização. A Igreja, comunidade dos santos, encontra-se ameaçada na nossa sociedade, tal como as outras religiões, pelo laicismo, que se erige em crença totalitária do mundo contemporâneo. O laicismo, aparentemente, diz defender os direitos do homem, Mas, como explicou o Papa, «fonte e síntese destes direitos é, em certo sentido, a liberdade religiosa, entendida como direito a viver na verdade da própria fé e em conformidade com a dignidade transcendente da pessoa»[17]. Esta dignidade encontra-se também posta em causa pelos abusos contra a liberdade de educação e da economia, elas também alvos habituais do centralismo do Estado- A Igreja vê-se, tantas vezes, quase só a confrontar o poder da sociedade democrática na defesa dos direitos fundamentais. Essas liberdades são consequentemente um terreno essencial para a evangelização.

 

A Cruz é o quarto sacramento da evangelização. Nesta Europa que é o continente da confusão cultural, nesta Europa que é a única região que renegou as suas raízes de civilização, a evangelização deve ocupar-se da própria identidade intelectual. A presença da Cruz de Cristo na Europa não é apenas uma questão de fé., é também uma questão de personalidade. A Constituição da Europa e o sucessor Tratado de Lisboa mostram-no claramente. Mostram-no como o sepulcro vazio, pela ausência.

 

Mas, como disse o Santo Padre João Paulo II na Exortação Apostólica «Ecclesia in Europa» : «Olhando para a Europa como comunidade civil, não faltam sinais indicadores de esperança: neles, mesmo entre as contradições da história, podemos com um olhar de fé individuar a presença do Espírito de Deus que renova a face da terra.»[18]

 

São estes os terrenos da evangelização. Os terrenos que encontramos nos mercados e nos autocarros, mas também nas paróquias e nos conventos, nos seminários e nos capítulos, nos episcopados e nos sínodos.

 

São estes os terrenos. Mas quais são os métodos? Como podemos fazer a evangelização nas nossas ruas e nos nossos mercados? Nos cinemas e na televisão? Nas cotações da Bolsa e nas decisões dos ministros?

 

Se o perguntarmos isto a S. Tomás de Aquino, teremos uma surpresa. Porque na «Suma Teológica», S. Tomás nunca fala de «missão» ou «missionário» no sentido que hoje damos a estas palavras. Ele fala muito de missão, mas não dessa missão de que nós falamos. A missão de que ele fala é a missão das pessoas divinas.

 

S. Tomás fala de uma tripla missão das pessoas divinas: Primeiro, a missão de Cristo, enviado a este mundo para o salvar. Em seguida da missão do Espírito Santo, que veio à «sala de cima» (cf. Act 1, 13), onde recebemos o espírito missionário nas «línguas à maneira de fogo» (Act 2, 3). Finalmente a missão que é a presença de Deus em nós pela graça santificante.

 

Ele explica: «Dizemos que uma Pessoa divina é “enviada” na medida em que ela existe em alguém de uma forma nova; e ela é “dada”, na medida em que é possuída por alguém. Ora nem uma coisa nem outra têm lugar senão por causa da graça santificante. Há, com efeito, uma maneira comum de Deus existir em todas as coisas pela sua essência, a sua potência e a sua presença. Ele está assim nelas como a causa nos efeitos que participam da sua bondade. Mas, para lá deste modo comum, existe um modo especial, que é próprio da criatura racional: dizemos que Deus existe nesta como o conhecido no conhecedor e o amado no amante. E porque, ao conhecê-lo e amá-lo, a criatura racional atinge pela sua operação o próprio Deus, dizemos que, por esse modo especial, não apenas Deus está na criatura racional, mas mais, que habita nela como no seu templo. Assim, portanto, fora da graça santificante não existe outro efeito que possa ser a razão de um novo modo de presença da Pessoa divina na criatura racional. E é apenas pela graça santificante que ela tem a missão e a processão temporal da Pessoa divina»[19]. «Pela graça santificante é toda a Trindade que habita a alma, como está escrito em S. João (14,23) “Nós viremos a  ele e faremos nele a nossa morada”»[20].

 

A evangelização é sempre e só a missão de Deus. Ele quer ter necessidade de nós, mas é Ele que nos faz o anúncio. É Ele que está presente no mundo, em todas as coisas pela sua essência, o seu potência e a sua presença, como a causa nos seus efeitos, que participam da sua bondade. Mas pela evangelização, Ele habita em nós como no seu templo.

 

Deus é o assunto, é o sujeito, o único sujeito da evangelização. É Deus que está presente na vida do mundo. A única descrição de todas as ocasiões de evangelização é muito simples “Jesus percorria cidades e aldeias, ensinando e caminhando para Jerusalém” (Lc 13, 22). Em todos os casos é isto que se passa: Jesus percorre as nossas ruas e fábricas, os nossos mercados e os nossos satélites, ensinando e caminhando para Jerusalém.

 

Deus é o sujeito, o único sujeito da evangelização. Mas o mundo só nos vê a nós. Eis o drama da evangelização. O mundo não sabe que nós somos o Corpo de Cristo. Mas sobretudo, o mundo não sabe que é sempre a Cabeça de Cristo que faz mover o seu Corpo. A evangelização é sempre Cristo que fala ao mundo por nosso intermédio.

 

Isto não é uma coisa que possamos fazer. É uma coisa que só podemos pedir. A evangelização é sempre uma coisa que pedimos. Devemos pedi-la. Devemos pedi-la a Nossa Senhora.

 

Maria é o começo, a fonte, a origem da evangelização. Ela é a aurora da Redenção. Ela é também o sacramento inicial, primitivo, original da evangelização. Nossa Senhora é, ela mesma, o quinto e último sacramento da evangelização.

 

É por isso que toda a evangelização deve começar e acabar pela oração. Rezar a Notre Dame de Paris. Rezar a Nossa Senhora de Fátima. Rezar a Nossa Senhora de todo o lado. «Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amen»

 



[1] O original francês deste texto, “Les Sacrements de l’Évangélisation”, foi apresentado na Catedral de Notre Dame em Paris, a 28 de Outubro de 2004, durante a sessão francesa do Congresso Internacional para a Nova Evangelização- Paris 2004, e publicado no livro Lustiger, et al (2004) Vous serez mes témoins – Paris Toussaint 2004, Paris.

[2] Péguy, Charles (1913) “Les Tapisseries d’Eve” in Oeuvres poétiques complètes, Bibliothèque de la Pléiade, Gallimard, Paris, 1957, p. 1080, 1085-1086

[3] Dial. 4, 138.

[4] Margarita Roper, Epistula ad Aliciam Alington(mense augusti 1534).

[5] Catecismo da Igreja Católica nº303, 313.

[6] S. Agostinho Confissões, liv. X cap. xx, xxii)

[7] O lema do Congresso Paris Toussaint 2004 era :«Qui nous fera voir le bonheur?»

[8] São Tomás de Aquino Suma Teológica, II-II, 28.

[9] : «Il m’est avis que c’est tout un de Notre-Seigneur et de l’Église et qu’on ne doit point faire de difficulté que ce ne soit tout un.» in Georges et Andrée Duby (2000) Les procès de Jeanne d’Arc, Gallimard, p. 115.

[10] João Paulo II (2003) Encíclica Ecclesia de Eucharistia, nº 22.

[11] Vaticano II, Constituição dogmática. Lumen Gentium, 8.

[12] Paulo VI, Sollemnis Professio fidei, 19.

[13] Catecismo da  Igreja Católica nº 827.

[14] João Paulo II (1994) Carta Apostólica Tertio Millennio Adveniente, nº 37.

[15] João Paulo II (1995) Encíclica Evangelium Vitae, nº 19.

[16] João Paulo II (2002) Carta Apostólica Virginis Mariae, nº 39 e 41.

[17] João Paulo II (2002) Encíclica Centesimus Annus, nº 47.

[18] João Paulo II (2003) Exortação ApostólicaEcclesia in Europa, nº 12

[19] São Tomás de Aquino Suma Teológica I 43, 3.

[20] São Tomás de Aquino Suma Teológica I 43, 5